sábado, 9 de maio de 2020

Regina Duarte nunca entendeu as personagens mais marcantes de sua carreira

A entrevista que Regina Duarte, atual secretária de Cultura do atual governo, deu à CNN, exibida nesta quinta-feira (07/05), foi a última pá de cal em sua imagem. As declarações desastrosas de uma das atrizes mais conhecidas do país provocaram uma reação de choque e repúdio, não só da classe artística, como de grande parte do público, com exceção dos fiéis seguidores do presidente. Ainda encerrou a entrevista com Daniel Adjuto, Reinaldo Gottino e Daniela Lima dando um ataque de falta de educação, se recusando a ouvir um depoimento de Maitê Proença cobrando melhorias no setor em plena crise.


A intérprete protagonizou um show de constrangimento ao vivo. Não respondeu aos questionamentos feitos e chegou a menosprezar a tortura cantando aos risos "Pra frente, Brasil! Salve a seleção", tema da Copa do Mundo de 70 e um dos símbolos da Ditadura Militar. Não conseguiu explicar a razão da falta de homenagens aos artistas mortos recentemente, como Aldir Blanc e Flávio Migliaccio. Chegou a declarar que a secretaria de cultura não era um obituário. Para culminar, inseriu o tema da COVID-19 ao falar da "morbidez que as pessoas estão trazendo" por conta da pandemia. Ou seja, também menosprezou as inúmeras vítimas do Brasil e do mundo. Enfim, uma entrevista desastrosa e indefensável.

Nada contra a ideologia de Regina, afinal, cada um com a sua. Não há certo ou errado na esquerda ou na direita. Mas há opiniões que são e devem ser universais. Ser contra a tortura e sentir empatia por vítimas de uma pandemia letal, por exemplo. Ou se preocupar em defender a sua classe durante o período mais caótico do setor.
Afinal, tudo que envolve o entretenimento cultural implica em aglomeração, algo que a sociedade não pode vivenciar no atual momento. E ao se mostrar como pessoa, ainda que claramente desequilibrada emocionalmente, a atriz prova que nunca entendeu ou gostou de várias personagens que marcaram a sua tão bem-sucedida carreira.


Entre 1979 e 1980, a Globo exibiu "Malu Mulher", série criada e escrita por Daniel Filho, onde Regina vivia a personagem título. A protagonista, em plena década de 80, cansava das brigas com o marido e tomava coragem para se divorciar. A coragem era a maior característica daquela mulher que ganhou a vida sozinha e enfrentou os vários preconceitos da época. As dificuldades de conseguir um lugar para morar, se sustentar e cuidar da filha eram alguns dos conflitos da trama. Maria Lúcia virou uma referência e a produção foi um marco. Mas a própria atriz declarou, em uma entrevista a Pedro Bial em 2019 (no "Conversa com Bial"), que nunca se identificou com esse feminismo da personagem e nem concordava com as atitudes dela. Ano passado essa declaração pegou muitos de surpresa.


Mas com certeza não é a única personagem marcante de sua trajetória na televisão que a atriz não se identifica. A batalhadora Raquel, de "Vale Tudo" (1989), era uma mulher honesta e trabalhadora. Sofreu um duro golpe de Maria de Fátima (Glória Pires), sua própria filha, e nunca aceitou a falta de caráter da herdeira. Os confrontos eram memoráveis. Não tolerava qualquer deslize e tinha como principal qualidade a integridade. Regina nunca viu problema no fato do presidente defender tanto seus filhos, mesmo quando envolve até investigação da Polícia Federal. E a icônica Maria do Carmo, de "Rainha da Sucata" (1990)? A sucateira que enriqueceu e passou a despertar o ódio da elite paulistana representada por Laurinha Figueiroa (Glória Menezes) não tinha medo de cara feia e enfrentava qualquer um que a menosprezasse. Jamais curvaria a cabeça para o autoritarismo ou sentiria medo de homenagear algum amigo que faleceu por conta de possíveis retaliações.


"Chiquinha Gonzaga" (1999) foi uma artista que se livrou da pressão da sociedade e de relacionamentos abusivos. Ignorou as constantes intimidações dos pais para ser uma mulher "recatada e do lar" e foi seguir seu sonho de viver da música. Ainda terminou sua vida ao lado de um homem bem mais jovem, outro escândalo para a época (faleceu em 1935). Uma figura que definitivamente jamais aceitaria um cargo no atual governo, assim como Helena, de "Por Amor" (1997), que não suportava a postura arrogante de Branca (Susana Vieira) e a forma como rebaixava todos que se opunham a ela. Helena enfrentava a vilã com a mesma dose de ironia. Um combate de igual para igual. Tudo para defender seus pensamentos. Não ficava insegura nem por um minuto.


É uma pena ver uma atriz tão talentosa e com uma trajetória tão brilhante se sujeitar ao pior papel de sua carreira: o de secretária da Cultura de um governo que não respeita ninguém. Antes da entrevista concedida à CNN, a intérprete era vista até como uma vítima. Uma pessoa com boas intenções que acabava podada por todos que a cercavam. No entanto, após as declarações cruéis e a total alienação na última quinta-feira, Regina Duarte provou que está entre os seus. A profissional que tanto cresceu através das artes nunca gostou muito de perfis como Maria do Carmo, Raquel, Helena, Malu... Regina sempre se identificou mesmo com Odete Roitman, Laurinha Figueiroa e Branca Letícia de Barros Motta.

34 comentários:

  1. Eu fiquei com vergonha por ela...

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  2. Que texto foda, Sérgio!!!!

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  3. Que comparações exemplares você fez!

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  4. Eu respeitava a posição política dela pq sempre achei absurda essa coisa de obrigar todo mundo a ser de esquerda, mas essas declarações dela foram nojentas.

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  5. Me pergunto se Gabriela Duarte também vai na mesma onda que a mãe ou se contraria as atitudes dela. Triste o que essa mulher está se mostrando. Não sei como conseguiu viver esses papéis feministas tão magistralmente. É uma atriz mesmo. Sabe fingir como ninguém.
    Só que não é apenas artista, é um ser humano deprimente também. Lamentável.

    (Matheus).

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    1. Gabriela já declarou na época das eleições que não apoiava esse governo. Pena dela estar vendo (e sendo ligada) a mãe praticando essas escrotices.

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  6. Você é repleto de qualidades, Sérgio, e uma delas é a de se posicionar de forma impecável a respeito de temáticas polêmicas. O seu texto representa toda a indignação da classe artística e de pessoas com discernimento com alguém que não tem os princípios das personagens mais marcantes da carreira. A postura de Regina Duarte diante de assuntos relacionados ao setor da Cultura no país foi vexatória, e de quebra ainda fez pouco caso das vidas vitimadas pela COVID-19. Aceitar o cargo de secretária da Cultura no atual governo foi um tiro na água para quem tinha uma carreira abrangente e gloriosa como atriz. Repulsa define.

    Guilherme

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  7. tentou censurar a entrevista. e ainda disse: mas isso não estava combinado. ela é agora uma pessoa pública, que ganha dinheiro público, tem que dar satisfações de suas ações. entendemos claro com a entrevista que o cargo é meramente figurativo, como ela mesma disse na entrevista, ela não nomeia nem instituiu nem destituiu ninguém essa incumbência é do ministro do turismo. todos devem lutar por direitos humanos. defender quem matou, torturou é abominável para qualquer ser humano, se é possível chamar de humano nesse caso. faz um tempo q percebi q a regina duarte não entendeu nada da sua personagem malu mulher, que defendeu o direito das mulheres de terem voz, de trabalhar, de não se curvar a figura de um homem como agora faz. chiquinha gonzaga ainda tinha mais problemas por ser negra, compositora e livre. regina só é parecida com a personagem q troca os bebês tentando impedir o sofrimento da filha, arrastando um caminhão de sofrimento a todos em volta principalmente ao pai da criança. egoísta e mimada como a atriz. tristes tempos.

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  8. Fiquei em choque com essa entrevista, Regina jamais deveria ter aceitado esse cargo, torcia para ela sair antes de queimar a sua imagem, mas agora é tarde demais, é lamentável o comportamento que ela teve.

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  9. Desculpe. Eu sei que vocês Millennials não gosta de Roque Santeiro, mas talvez seja o melhor exemplo do que está acontecendo. Bolsonaro é o falso mito, Regina agora desempenha seu papel mais icônico, a "viúva" do falso mito que lucra com isso. Chico Malta é a expressão máxima da repressão da liberdade de opinião. Malta não era apenas uma crítica aos coronéis do nordeste, mas aos coronéis do governo, que fizeram seus horrores na Ilha das Flores. Você precisa entender a persistência do personagem de que não chamem a ele coronel. Pelo menos a Viúva Porcina de Roque insistia em dividir suas terras e tambem na reforma agrária. Agora está difícil com Regina.

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  10. KKK, agora que a Globo tá de quarentena só restou a esse tal de "Zamenza" falar de política e artistas engajados no assunto. Regina Duarte não falou nada demais, e se vc acha que ela foi "grossa" ao abandonar a entrevista onde claramente viu que estava sendo pressionada saiba que essa mesma CNN ha algumas semanas atrás cortou vergonhosamente a entrevista de um médico qdo este começou a falar dos malefícios desse isolamento principalmente para as classes baixas, e como qualquer declaração que ao menos cheire a apoio ao Presidente imediatamente vira alvo de boicote dessa mídia nada imparcial. Regina Duarte certíssima em não dar apoio a esses artistas aproveitadores que ganham fortuna da rede Globo e querer montar peça de teatro com NOSSO dinheiro.

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  11. Olá Sérgio
    Confesso que já tinha sido surpreendida com o fato dela aceitar o cargo, MAS essa entrevista foi chocante!
    Alterada e sem controle emocional falou coisas tão inacreditáveis com uma total falta de empatia e sensibilidade que nem sei dizer o que sinto.
    Vergonha alheia e pena, muita pena mesmo por esse desrespeito total, inclusive por ela própria.
    Talvez seja mesmo uma boa atriz, tanto que passou até algum tempo atrás uma imagem de fofinha 😕😕

    A propósito quero deixar registrado mais uma vez o que sempre digo: você absolutamente sensato e seus textos são SEMPRE os melhores.
    Mais do que informar trazem a educação e talento natos pelos quais só tenho duas palavras: parabéns e gratidão.

    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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  12. Algumas pessoas acham que os artistas tem os mesmos valores dos seus personagens. E infelizmente nem sempre é assim, pois nem todos os artistas são desconstruídos em relação a temas complexos,tais como, machismo, preconceito racial, etc. Isso só prova que eles são pessoas normais, com defeitos e qualidades. Tenho um pé atrás com a Regina desde aquele vídeo da eleição de 2002. Dela dizendo que tinha medo do Lula ser eleito presidente.
    A Regina sempre foi ótima atriz, mas deixa a desejar como pessoa.
    Por essas e outras que precisamos aprender a separar artistas de seus personagens.

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  13. Sérgio, perfeição é o que lhe digo dos seus magistrais textos e as excelentes comparações com as personagens vividas pela Regina Duarte! Realmente ela só é atriz, e nada aprendeu em tantos anos de carreira!
    Lamentável a entrevista, puxa, eu fiquei com vergonha alheia... :(
    Amigo, impecável como sempre!!
    Um grande abraço querido!! ::))))

    obs: Eu te reenviei os códigos por e-mail, os recebestes?
    Tenha uma ótima semana!!!

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  14. Sérgio, você precisa ver o que Chris Flores falou sobre essa mulher. Ela detonou ela no programa fofocalizando. MITOU!!!

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  15. Quer dizer que se a Regina Duarte fosse ministra do Haddad, o aprendiz de ladrão, aí tudo bem? PT nunca mais meu amigo, chora que faz bem, rs.

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    1. Sérgio não é Bolsonaro, mas também não é PT. Ele não é nenhum dos dois.

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  16. Anonimo, eu adorei Roque Santeiro, mas nao coloquei a Porcina pq ela nunca foi um poço de virtudes. Pelo contrário, era interesseira e oportunista...Ou seja seria a cara do governo e nesse posto exponho as personagens que não são.

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  17. Luiz, pelos seus comentários aqui eu ja desconfiava que vc fosse bolsominion.

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  18. Pros minions não gostar desse psicopata lunático é sinônimo de ser petista e comunista, anonimo...Viraram doentes.

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