sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Assim como "Espelho da Vida", "Bom Sucesso" acertou com a construção do amor dos mocinhos

Não há novela que consiga escapar dos clichês tão comuns ao gênero. Mesmo o folhetim mais ousado ou "inovador" acaba apresentando várias situações já vistas pelos telespectadores. Inevitável. E um dos contextos mais presentes nas histórias é o amor à primeira vista, quase sempre perto do final do primeiro capítulo. O problema é o alto risco do público rejeitar o par em virtude da pressa do escritor. Só mesmo quando a química dos atores é arrebatadora para evitar uma não identificação de quem assiste. O recurso era bem mais comum em produções antigas, mas ainda resiste. Por isso é tão bom quando autores fogem desse padrão. "Espelho da Vida" e "Bom Sucesso" foram ótimos exemplos.


Elizabeth Jhin construiu o amor dos mocinhos de forma corajosa na maravilhosa novela das seis da Globo encerrada no primeiro semestre de 2019. A autora apresentou a mocinha Cris Valência (Vitória Strada) em um relacionamento estável com Alain Dutra (João Vicente de Castro) e só depois foi expondo o nascimento do amor infinito de Júlia Castelo e Danilo Breton (Rafael Cardoso), em 1930, através das viagens no tempo promovidas pelo espelho da falecida. A protagonista descobriu que era a reencarnação da enigmática mulher e viajou até o passado para descobrir o verdadeiro responsável pelo assassinato de sua vida passada. Acabou revivendo o amor que sempre terminou com um final trágico em todas as encarnações.

A autora, no entanto, só inseriu o mocinho no presente na reta final de "Espelho da Vida". A expectativa do público ficou tão alta que a trama, com uma audiência inicialmente problemática, teve uma elevação e tanto nos números do Ibope.
A trama, que marcava em torno de 18 pontos, chegou a médias de 23 e picos de 29. Se por um lado a novela apresentou uma rejeição de parte do público no começo, muito em virtude da narrativa ousada em dois tempos distintos, pelo outro a escritora acabou recompensada pela aclamação de público e crítica nos momentos decisivos. Tudo foi tão bem construído que o encontro de Cris e Daniel no presente, através do espelho que dava nome ao enredo, transbordou sensibilidade e emoção. Vitória Strada e Rafael Cardoso estiveram em plena sintonia.

Já em "Bom Sucesso", atual fenômeno das sete e em plena reta final, os autores também fugiram do clichê do amor súbito em início da novela. Paloma (Grazi Massafera) achou que ia morrer, mas seu exame era de Alberto Prado Monteiro (Antônio Fagundes) e o mal entendido foi desfeito logo na primeira semana. Ainda culminou no nascimento de uma linda amizade entre a personagem e o ranzinza dono de uma editora de livros. Porém, antes de descobrir a verdade, a protagonista fez várias loucuras e uma delas foi transar com um homem que nem conhecia direito em Búzios ---- microrregião dos Lagos, Rio de Janeiro. Ambos se apresentaram com nomes falsos. Ela se denominou Alice e ele Peter ---- em uma alusão aos clássicos infantis "Alice no país das maravilhas" e "Peter Pan". O encontro, no entanto, ficou marcado em sua memória. E a costureira não poderia imaginar que se reencontraria com o dito cujo tão cedo e muito menos que seria filho de Alberto.

A saia justa entre Paloma e Marcos (Rômulo Estrela), portanto, virou quase uma rotina. Ele sempre provocativo e ela na defensiva. Embora o encontro tenha marcado a vida de ambos, não houve um amor à primeira vista. Principalmente porque o filho de Alberto sempre se mostrou um mulherengo e a mocinha estava mais preocupada no momento com o seu pouco tempo  de vida. Todavia, a convivência na mansão e os encontros inusitados ---- quase sempre com Marcos de sunga ou pelado ---- resultaram em uma aproximação até então impensável. A ponto do mocinho se mostrar claramente apaixonado, mesmo negando a si mesmo o amor. Afinal, o irmão de Nana (Fabíula Nascimento) nunca acreditou nesse tipo de sentimento. Sempre foi movido pelo desejo. Já Paloma morria de medo de se aventurar em direção ao desconhecido e preferia manter a estabilidade ao lado de Ramon (David Junior), mesmo com o passado turbulento do casal e o ciúme controlador do pai de sua filha, Alice (Bruna Inocêncio).

Ou seja, Rosane Svartman e Paulo Halm não tiveram pressa na junção do par. Preferiram apostar na boa construção, valorizando muitos outros personagens além dos mocinhos. Tanto que a história não se resume a um romance. O mote central, a alma da novela, é a amizade entre Alberto e Paloma. Tudo que ocorre em torno dessa relação é consequência. Após a separação entre a mocinha e Ramon, uma natural aproximação com Marcos se estreitou bem mais. E a concretização desse amor que foi construído aos poucos finalmente aconteceu. O mocinho chegava a pedir a mocinha em namoro inúmeras vezes, mas Paloma sempre fugia do assunto. Uma outra visão do clichê, afinal, era um costume no passado o homem enrolar a mulher e fugir do compromisso sério. Tudo foi tão bem desenvolvido pelos autores que ficou impossível não torcer pelo final feliz do par.

Grazi Massafera e Rômulo Estrela têm uma química arrebatadora e todas as cenas que vêm protagonizando desde a oficialização do relacionamento encantam. Paloma representa para o mocinho o amadurecimento, a criação de laços sólidos. Já Marcos representa para a mocinha uma liberdade para viver o agora, sem medo de ser feliz e também se preocupar consigo mesma. A costureira passou a vida se deixando em segundo plano pela família e com o filho de Alberto aprendeu a se valorizar mais. O tema de abertura da novela não é por acaso. "A sorrir eu pretendo levar a vida...".

A trama das sete está a uma semana do seu fim. Passou voando. E um dos muitos bons desenvolvimentos da linda novela de Rosane Svartman e Paulo Halm foi justamente a relação dos mocinhos. O amor apresentado aos poucos, sem correria desnecessária, sempre funciona mais e a chance de falhar é quase nula. "Espelho  da Vida" e "Bom Sucesso" provam isso.

19 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Concordo. Os casais protagonistas funcionaram em Espelho da Vida (principalmente nos anos 30) e Bom Sucesso. Desde o primeiro encontro entre Marcos e Paloma, o telespectador ficou na torcida. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Zamenza porque voce é tão perfeito?????

    ResponderExcluir
  3. Dois casais maravilhosos de duas novelas maravilhosas.

    ResponderExcluir
  4. Que comparação PERFEITA!!!!!

    ResponderExcluir
  5. "Espelho Da Vida" (2018) e "Bom Sucesso" maravilhosas, sobretudo pela construção gradual do par romântico principal. "Malhação - Toda Forma De Amar" tinha pelo menos isso para se equiparar a essas deliciosas novelas, mas...

    Guilherme

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. Espelho da Vida não teve construção porque Cris e Daniel só se encontraram no Final. E Maloma foi brilhante

    ResponderExcluir
  8. CONCORDO PLENAMENTE!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  9. Oi, Sérgio!
    Feliz 2020! Tenha um ótimo ano com acontecimentos que você almeja e repleto de alegrias! :-)))
    É sempre bom ler suas análises inteligentes e bem escritas. 📱💻
    Ficou bem bonito o novo layout do seu blog. 📺 🤗
    Boa semana! Bjs

    ResponderExcluir
  10. Eu como uma assídua leitora, ou seja, como acompanhante de histórias posso afirmar que a maioria esmagadora não gosta de Instalove. É uma delícia ver o amor nascendo, se desenvolvendo aos poucos e em meio a tudo isso acompanhar o amadurecimento dos personagens. O grande problema do Instalove nas histórias é que os personagens ainda não estão aptos a viver de fato aquela relação, uma vez que somente amor não sustenta.
    É muito melhor ir acompanhado o envolvimento dos personagens gradativamente. Posso apontar aqui casais que tiveram esse Instalove e afundaram. Afundaram porque toda e qualquer história vive de conflitos. E um romance proibido ou impossível seja por qual razão for é um grande gerador de conflitos.
    No caso de Marcos e Paloma o romance deles era impossível entre outras coisas por conta de suas personalidades. Paloma era raiz de chão e Marcos pipa solta. Como você bem apontou no texto era impossível para ela em determinado momento se desprender, especialmente porque ela necessitava de confiança. Ou seja não houve necessidade de fazer um romance impossível baseado em famílias rivais, embora isso também seja muito atrativo.
    A questão que quero dizer é que existem diversas formas de provocar conflitos. Marcos e Paloma se envolveram com outras pessoas. Havia um abismo social entre eles, embora isso não tenha sido colocado em xeque bem ou mal estava ali presente, especialmente ela sendo empregada e ele patrão. Depois veio a luta pela aceitação das pessoas ao redor de ambos.
    Paulo e Rosane sabem construir casais maravilhosos, aliás me arrisco a dizer que eles são especialistas nisso. Estão ai Sonhos, TD e BS que não me deixam mentir.
    Eita Saudades de Espelho♥️
    E por fim espero que alguns colegas de R e P aprendam como se faz um casal.
    PS: A coisa mais fabulosa de Maloma é essa ligação entre eles e os livros. Por motivos mais que óbvios isso me deixava fascinada. Meu sonho de consumo. Os dois lendo juntos, vivendo as histórias juntos era incrível.
    Já tô sofrendo pelo fim e não é pouco.

    ResponderExcluir
  11. Teve toda a construção da primeira vida, Cintia.

    ResponderExcluir
  12. Leitora, saudade de vc e que comentário PERFEITO!!!!

    ResponderExcluir