Retrospectiva 2019: os piores do ano

As retrospectivas de fim de ano viraram uma tradição e esse blog tem o costume de apresentá-la em partes. Após a lista de triste perdas do meio artístico em 2019, chegou a hora das listas de piores, melhores casais, atores e cenas. Começando, como sempre, pela seleção do que teve de pior no ano que passou. E vamos aos selecionados.

"O Sétimo Guardião":
Tudo de pior que poderia acontecer com uma novela aconteceu com a trama de Aguinaldo Silva. Antes mesmo de estrear, o autor já enfrentava um processo de seus alunos da Masterclass que exigiam a co-autoria da obra. Como se não bastasse o entrevero jurídico, o folhetim não caiu nas graças do público e o enredo sobre uma fonte da juventude e um homem que se transformava em gato preto foi um imenso fracasso. A volta do realismo fantástico não deu certo e o gênero nem foi muito utilizado pelo escritor. Os personagens eram mal construídos e sem carisma. O desenvolvimento se mostrou confuso e o roteiro se arrastou. Para culminar, houve um escândalo envolvendo a traição de José Loreto, um dos atores do elenco, com uma colega de núcleo (Marina Ruy Barbosa teve o nome citado pela agora ex do rapaz, Débora Nascimento, e negou com indignação). Todos queriam saber mais sobre essa fofoca do que sobre a novela. Uma produção para ser enterrada em uma cova bem funda.

"Órfãos da Terra":
A novela de Duca Rachid e Thelma Guedes teve um começo avassalador e arrebatou público e crítica com uma atrativa história sobre refugiados envolvendo um romance impossível entre Laila (Julia Dalavia) e Jamil (Renato Góes). Mas as autoras queimaram todos os cartuchos nas primeiras semanas e a morte do principal vilão, Aziz Abdallah (Herso Capri), iniciou uma sucessão de equívocos que não cessaram até o final. Não havia enredo para mais de um mês e a obsessão de Dalila (Alice Wegmann) pelo mocinho e por uma vingança que nunca fez o menor sentido se arrastou por longos meses. A trama teve êxito na audiência, mas a repercussão foi nula e infinitamente menor que a trama anterior, "Espelho da Vida", que gerou muito mais burburinho e não repetiu o feito nos números do Ibope, ironicamente.

"Malhação - Vidas Brasileiras":
Patrícia Moretzohn resolveu adaptar o formato da série canadense "30 Vies", mudando o protagonismo do enredo a cada 15 dias, mas não funcionou. O esquema adotado pela autora deixou todos os dramas superficiais e aniquilou qualquer possibilidade do público se envolver com os enredos, ainda mais exibindo conflitos que eram solucionados magicamente em menos de dez dias. O elenco escalado também deixou a desejar e vale lamentar uma atriz talentosa como Camila Morgado em um perfil central tão desinteressante quanto a professora Gabriela. A péssima audiência refletiu o que foi apresentado para os telespectadores. Várias vezes perdeu a liderança para o sensacionalista "Cidade Alerta", da Record, fato que nunca havia ocorrido antes. Para culminar, ainda prejudicou o desempenho da excelente "Espelho da Vida".

"Big Brother Brasil":
Que tragédia. O "BBB19" tinha tudo para ser um dos melhores e foi um dos piores, senão o pior. Participantes passivos e covardes fugiram do jogo o tempo todo e acabaram dando espaço para pessoas deprimentes e preconceituosas. Thiago Leifert não se preocupou em esconder suas preferências e torceu descaradamente, além de ter mexido no jogo com suas opiniões desnecessárias. Coroando a péssima edição, a vitória de uma mulher que fez vários comentários racistas sendo elogiada pelo apresentador.

"Verão 90":
A novela de Izabel de Oliveira e Paula Amaral foi o último trabalho do saudoso diretor Jorge Fernando. E uma pena que a trama tenha decepcionado tanto. A história ambientada na década de 90 tinha tudo para mexer com a memória afetiva dos telespectadores que eram adolescentes na época, mas as autoras esqueceram de criar um roteiro atrativo. A história da Patotinha Mágica não se sustentou nem por uma semana e os personagens ficaram perdidos nos capítulos, o que implicou em um desperdício de talentos. Frustrado com seu personagem, Humberto Martins chegou a pedir para sair da trama e teve o desejo atendido. Até mesmo as referências aos anos 90 se mostraram equivocadas, pois havia muito mais elementos da década de 80 do que do período retratado no enredo. Cláudia Raia como Lidiane, Dandara Mariana na pele de Dandara, Camila Queiroz como Vanessa e Jesuíta Barbosa na pele de Jerônimo foram alguns que passaram ilesos e brilharam.

Término do "Vídeo Show":
Prestes a completar 36 anos no ar, o programa vespertino mais longevo da Globo foi simplesmente retirado do ar em janeiro de forma súbita. A equipe foi avisada com apenas uma semana de antecedência e a razão era a baixa audiência, perdendo quase diariamente para a "Hora da Venenosa", quadro de fofocas da Record. A atitude da emissora beirou o amadorismo, pois nem substituto tinham para a atração. A saída foi antecipar a "Sessão da Tarde", que seguiu perdendo para a concorrência, e exibir reprises de "A Grande Família" logo depois. O programa realmente estava descaracterizado e necessitava de mudanças, mas quadros como o "Falha Nossa", "Meu Vídeo é um Show" (que homenageava atores), e os bastidores das gravações ainda eram muito prestigiados e fazem falta. Uma verdadeiro desrespeito.

"Se Joga":
A Globo demorou quase dez meses para criar uma atração para entrar no lugar do "Vídeo Show". Mas, desde as primeiras informações sobre o novo programa, já era visível que o formato não daria certo. A entrada de Fernanda Gentil no mundo do entretenimento não poderia ter sido pior. Acompanhada por Érico Brás e Fabiana Karla, a apresentadora não consegue fazer milagre com uma atração que atira para todos os lados e não acerta em nenhum. Games bobocas, fofocas que ninguém se interessa e quadros forçados marcam a "identidade" do programa. A audiência não correspondeu e a Globo segue ficando em segundo lugar. Seria melhor ter continuado com o "Vídeo Show" para ficar com a vice-liderança mantendo a dignidade. Continuar com índices baixos apresentando um  conteúdo de qualidade duvidosa é ainda pior.

Fim do "Como Será?":
Há cinco anos, a Globo decidiu condensar vários programas matinais de sábado em um só. "Globo Cidade", "Globo Cidadania" e "Ação" acabaram virando o "Como Será?", comandado por Sandra Annenberg. E a atração manteve as qualidades de cada produto. Conseguiram até elevar o nível do formato que mesclava informação, empreendedorismo e ações sociais com maestria. Mas, sem maiores explicações, a emissora enviou um comunicado sobre o cancelamento do programa. Serão exibidas reprises até um novo formato ser escolhido. O detalhe é que Sandra foi retirada da apresentação do "Jornal Hoje", após 13 anos, meses antes.

"The Voice Brasil":
Há pelo menos três anos que o reality musical da Globo está na lista. Nem mesmo a entrada da maravilhosa Iza no time dos técnicos provocou alguma mudança significativa. Uma renovação total é necessária. E pela quinta vez seguida Michel Teló conseguiu fazer um candidato campeão. É verdade que o amadorismo de Iza contribuiu, que deu o favorito de bandeja para o colega, mas ainda assim a previsibilidade reinou. Incluindo nos comentários óbvios e sempre cheio de elogios dos técnicos. A edição de 2019 teve uma repercussão tão baixa quanto a de 2018.

Silvio Santos:
Um dos maiores comunicadores do país estava na lista de 2018 e é uma lástima que continue. O apresentador vem enfiando os pés pelas mãos há um bom tempo com suas declarações constrangedoras e em 2019 não foi diferente. Se em 2018 ficou marcado pelo assédio a Cláudia Leitte em pleno evento beneficente do Teleton, agora Silvio teve um ato racista com uma moça negra que participou de um quadro em sua programa. Como foi eleita a melhor pelo público com 84% dos votos, Jennyfer ganharia um prêmio de quinhentos reais. Mas ele não aceitou a decisão e resolveu premiar uma outra candidata, que era branca.

"A Fazenda":
O reality da Record sempre teve a interferência direta da direção de Rodrigo Carelli que mexia no jogo de acordo com suas preferências, porém, na décima primeira edição essa manipulação foi descarada e sem qualquer constrangimento. Entre os muito equívocos da temporada, para proteger os dois favoritos, o diretor cancelou uma Roça em andamento só para evitar a final antecipada. A desculpa foi um erro explícito na prova de Fazendeiro, mas que não afetava os dois envolvidos. A atitude apenas prejudicou participantes como Rodrigo Pavanello e Diego, que já estavam com a vaga na final praticamente garantida.

"Mestre do Sabor":
Após anos ignorando a existência dos realities culinários da concorrência e adaptando formatos apenas para quadros do "Mais Você", de Ana Maria Braga, a Globo resolveu apostar em um formato para chamar de seu. Porém, errou feio na criação. O programa parece um "The Voice Brasil" culinário, onde os chefs funcionam como técnicos elogiosos que evitam qualquer tipo de crítica. Tudo está sempre maravilhoso e mal dá para decorar os nomes dos participantes porque quem assiste não consegue se envolver. As regras são confusas e as disputas sem qualquer emoção. A repercussão foi zero.









Como foi possível perceber, o ano de 2019 teve muita decepção na televisão. Faz parte. Todo ano tem e em 2020 não será diferente. Pelo menos também tivemos muitas produções excelentes e atores que brilharam em várias tramas. É a Lei da Compensação. E em breve eles aparecerão aqui em outras listas. Aguardem.