Cássio Gabus Mendes merecia um papel como o Afonso de "Éramos Seis"

A atual novela das seis da Globo vem merecendo os elogios e o prestígio do público. O quinto remake de "Éramos Seis" é um produto de qualidade inquestionável e a trama, baseada no livro de Maria José Dupré e na novela exibida pelo SBT em 1994, prende através de conflitos reais protagonizados por personagens humanos. E um dos perfis mais cativantes do enredo é Seu Afonso, interpretado com brilhantismo por Cássio Gabus Mendes.

O dono do Armazém e grande amigo de Dona Lola (Glória Pires) é um coadjuvante que cresce sempre que surge em cena. E está longe de ser um tipo cuja função é apenas servir de "orelha" para a protagonista. Tanto que o enredo que o cerca desperta tanta atenção quanto a da família central. Afonso tem um drama que provoca grande compaixão no público, principalmente pela forma como tudo acontece em sua vida.

O bondoso homem se viu abandonado pela então companheira, Shirley (Bárbara Reis), que levou a filha embora para viver com seu verdadeiro amor, João Aranha (Caco Ciocler). Dez anos se passaram e Afonso nunca mais viu Inês (Gabriella Saraivah/Carol Macedo), sua filha de coração.
A mãe, em combinação com o marido, nunca entregou as cartas que seu ex enviou para a menina. A solidão, no entanto, não transformou o personagem em uma pessoa amarga. Embora sempre muito triste, Afonso nunca deixou de ser atencioso com os clientes e amigos.

O ator estava precisando de um perfil assim, após tantos anos vivendo tipos sem maior relevância. Cássio Gabus Mendes é um profissional que está há 37 anos na televisão --- estreou em "Elas por Elas", de 1982) e seu talento é reconhecido. Por isso mesmo era uma pena vê-lo interpretando tipos tão desinteressantes em seus trabalhos mais recentes. Tanto que os últimos bons personagens, de fato, do ator foram Chico Mendes ---- "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" ----, o delegado mineirinho Trajano --- de "Desejo Proibido" ---, ambas tramas exibidas em 2007, e o vilão Bonifácio de "Lado a Lado" (2013). Afonso chegou em boa hora.

A parceria de Cássio com Glória Pires está deliciosa de se ver e fica difícil não lembrar do sucesso "Vale Tudo", de 1988, onde viveram perfis totalmente distintos, embora seu personagem também se chamasse Afonso. Mas era um Afonso mimado, enquanto sua colega vivia a vilã Maria de Fátima. Agora os atores dão vida a dois amigos que esbanjam bondade e integridade. A sintonia é tamanha que já há torcida para um romance entre Lola e Afonso. Essa parcela do público, entretanto, com certeza não lembra da triste história do livro e nem da versão do SBT.

Cássio ainda teve uma cumplicidade cênica linda com a pequena Gabriella Saraivah na primeira fase e agora emociona ao lado de Carol Macedo. A cena do reencontro de Afonso e Inês já é uma das melhores da novela. As boas cenas protagonizadas ao lado de Nicolas Prattes (Alfredo), Danilo Mesquita (Carlos), Kiko Mascarenhas (Virgulino) e Kelzy Ecard (Genu) também merecem elogios.

"Éramos Seis" está a cada dia mais envolvente, fazendo jus ao inesquecível drama de Dupré. E o destaque de Cássio Gabus Mendes como Afonso é um justo reconhecimento ao trabalho do ator (filho do saudoso autor Cassiano Gabus Mendes e irmão do talentoso Tato Gabus Mendes), que faz parte da história da televisão.