A história, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini, é protagonizada pela sofrida Lúcia (Débora Bloch), professora que se envolve com os conflitos de seus alunos e nunca conseguiu superar a trágica perda do filho, vítima de um atropelamento ---- que ainda culminou no AVC de seu marido Alberto (Marcos Winter). A escolha de Débora Bloch foi um tiro certeiro. Impressiona como a atriz vem brilhando cada vez mais em papéis carregados de drama, desde a novela "Sete Vidas", de 2015. Comoveu o telespectador na trama de Lícia Manzo, em "Justiça" (2016), "Treze Dias Longe do Sol" (2018), "Onde Nascem os Fortes" (2018) e agora não é diferente.
Os atores que cercam a intérprete não ficam atrás. Paulo Gorgulho voltou à Globo em grande estilo, após 14 anos na Record. Jaci é um professor que atua como diretor da escola Maria Carolina de Jesus e tenta se manter mais frio diante dos problemas. Tem um caso com Lúcia e protagoniza alguns embates com a parceira em virtude das discordâncias a respeito da conduta com os alunos. O ator está ótimo.
O mesmo vale para Silvio Guindane, intérprete do professor de artes Marco André. O idealista levou um choque quando se deparou com a realidade da unidade (caindo aos pedaços), mas se manteve firme e logo virou um parceiro dos demais. Suas cenas com Hermila Guedes viraram um dos pontos altos.
Aliás, Hermila é outro grande nome. A professora Sônia sofre com o vício em remédios tarja preta e a violência do marido agressor, vivido pelo competente Otávio Muller. A mulher ainda se deparou com uma tentativa de estupro praticada por um aluno em plena escola. A cena foi forte. A personagem viu uma luz no fim do túnel graças ao carinho do colega Marco André e o envolvimento amoroso se mostrou inevitável. A sintonia do par é evidente. Após o bom desempenho em "Assédio", exibida no primeiro semestre --- na pele de uma mulher que também sofria abusos ----, a atriz novamente se destaca com cenas densas.
E a grata surpresa da série é Thalita Carauta. Marcada pelos perfis caricaturais do "Zorra" e do tipo que viveu em "Segundo Sol", a intérprete finalmente está podendo mostrar que tem outras facetas a serem exploradas. Eliete é uma carismática professora de matemática e lida com os problemas de forma prática. Suas cenas mesclam leveza e dramaticidade através dos conflitos com os alunos e colegas de profissão. Um momento que destacou a atriz foi quando Eliete se comoveu com a situação do aluno Silvio, um morador de rua interpretado com brilhantismo por José Dumont. Ela tentou arrumar um lugar para o homem ficar na escola, mas ele recusou assim que descobriu que não poderia ficar com seu cachorro. Comovente.
Os alunos, vale destacar, são outros personagens que contam com grandes intérpretes. Muitos desconhecidos do grande público, como Linn da Quebrada, que vem protagonizando cenas maravilhosas na pele de Natasha, travesti que sofre com o preconceito dos demais. A personagem enfrentou um forte bullying no início, mas deu a volta por cima. Se entristeceu, no entanto, com a rejeição do namorado, que não quis assumi-la em público. A atriz está muito bem. Já Teca Pereira está emprestando seu talento para a humilde Dona Jurema, personagem que despertou ódio e pena na mesma intensidade. Isso porque se mostrou preconceituosa com Natasha, ao mesmo tempo que sofreu com o marido machista. A sequência em que a senhora recusou voltar para casa com o esposo para permanecer na escola estudando comoveu.
Uma das melhores cenas da série foi protagonizada por Ingrid Gaigher, intérprete da Aline. A aluna se indignou quando a colega Márcia (Sara Nunes) virou alvo de olhares e chacotas porque amamentava o filho na sala e mostrou seus seios. "O problema é peito?", disse ao levantar a blusa. Todas as colegas repetiram o gesto e a professora Lúcia se orgulhou. Sara, inclusive, é mais um nome que merece menção, assim como Vinícius de Oliveira, que vive Pedro, marido da aluna. Mariana Nunes se destacou quando o drama de sua personagem foi abordado (a prostituta Gislaine), que teve uma bolsa de estudos negada apenas por causa da profissão. William da Costa merece elogios pelo seu desempenho como Cleiton, o mais rebelde aluno e irmão do chefe de facção do bairro.
As participações especiais ainda engrandecem a série e a mais marcante foi de Felipe Simas. O ator se entregou por completo na pele do sofrido Maicon, aluno que resolveu assaltar a escola depois que viu sua esposa quase matar seu filho recém-nascido afogado em uma bacia por conta das dificuldades financeiras. A sequência em que o garoto foi descoberto pela turma e chorou diante da professora dilacerou quem assistia. "Não sou bandido, sou pai", disse um jovem desesperado. Felipe comprovou que é um dos melhores atores de sua geração e o desfecho trágico do personagem ---- morto pelos traficantes no meio da rua ---- impactou. Aliás, a cena também destacou Débora Boch em virtude do sofrimento de Lúcia, que vivenciou pela segunda vez o trauma do filho morto. Carol Duarte foi mais uma participação que teve uma passagem marcante através do drama da aluna que não soube o que fazer com seu filho e acabou fugindo, largando a criança na escola.
"Segunda Chamada" é uma série que chegou para ficar. Com toda certeza repetirá a trajetória bem-sucedida de "Sob Pressão" e a segunda temporada já está garantida para abril de 2020. O time de atores está irretocável e a rotatividade nas participações proporciona um grande número de profissionais com chances de destaque em determinados momentos.
13 comentários:
Que série boa!!!!!
Gosto da série e do elenco, mas Sob Pressão envolve mais e acho muito melhor.
Vc vai msm ignorar a morte do Gugu Liberato?
O que mais me incomoda nessa série é o "exagero" de transformar os professores em resolvedores de problemas alheios, até parece que os "teachers", vai abrir mãos de suas vidas por causas de alunos,professor é uma das profissões mais importantes, e também desvalorizadas, mas se é pra focar neles, mostrem a sua vida além do ambiente escolar, enfim minha opinião!!!!!!!!!
Não acompanho essa série porque estou vendo Masterchef.
big beijos
Lulu on the sky
Atuações maravilhosas de Débora Bloch,Paulo Gorgulho,Hermila Guedes, José Dumont e todos os outros não tem um nome sequer que esteja ruim
Torço para que Débora ganhe o APCA
Faltou falar da participação da Nanda Costa.
Mt boa, William.
Nao ignorei, Fernanda.
Sem problemas, Marcio!
Ok, Lulu. bjs
Maravilhosos mesmo, anonimo.
Verdade, Ricardo.
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