A morte inesperada de uma mulher tão jovem chocou todos os fãs e a classe artística. Fernanda deixou o marido, Alexandre Machado, e quatro filhos: as gêmeas Cecília Maddona e Estela May, de 19 anos; Catarina Lakshimi, de 10 anos e John Gopala, também de dez anos. Os nomes de seus herdeiros, por sinal, já deixam claro que Fernanda não era uma pessoa qualquer. Sarcástica, de opiniões firmes e multifacetada, a profissional, que se saía bem em todas as áreas que se dedicava, se consagrou como autora.
Ela e o marido são responsáveis por várias séries de imenso sucesso na televisão, sendo "Os Normais" a mais lembrada até hoje. A trama protagonizada por Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) conquistou o público e durou menos no ar do que se imagina: apenas dois anos (2001/2003). Mas originou dois filmes que repetiram o sucesso.
Foi justamente através do seriado que o telespectadores foram apresentados ao humor ferino dos escritores, repleto de situações que debochavam do cotidiano de um casal problemático de classe média. Porém, a autora já havia colaborado anteriormente (1995) com "A Comédia da Vida Privada".
E como Fernanda nunca gostou de ficar parada, em 2004, um ano depois do fim de "Os Normais", produziu ao lado de Machado a deliciosa série "Os Aspones", baseada no cotidiano de funcionários públicos que não faziam porcaria nenhuma. Infelizmente, a trama teve apenas uma temporada, mas merecia pelo menos umas três. Selton Mello, Drica Moraes, Andrea Beltrão, Marisa Orth e Pedro Paulo Rangel eram os protagonistas de cenas geniais, onde a graça estava no absurdo de uma realidade brasileira. Já em 2005 foi a estreia do quadro "Supersincero", no "Fantástico", protagonizado por Luiz Fernando Guimarães. O sucesso foi tão grande que a autora, juntamente com seu esposo, criou em 2006 "Minha Nada Mole Vida" e colocou Luiz para viver o principal papel, claramente inspirado em Amaury Júnior e suas coberturas de festas da alta sociedade.
"Separação?!" (2010) também retratou o sarcasmo de Young da melhor forma através de um casal que vivia entre tapas e beijos. Débora Bloch e Vladimir Brichta protagonizaram a produção com maestria. "Macho Man", em 2011, expôs a rotina de um cabeleireiro que perde a memória e deixa de ser gay, embora mantenha todas as afetações que sempre foram peculiares. Jorge Fernando foi o personagem central e novamente os autores contaram com o trabalho de Marisa Orth no elenco. Em 2012, Fernanda escreveu "Como Aproveitar o Fim do Mundo", protagonizada por Alinne Moraes e Danton Mello, aproveitando as teorias sobre o fim dos tempos que eram elaboradas na época. Mais um êxito para a autora e seu fiel parceiro --- a série foi indicada ao Emmy Internacional.
Até os fracassos (merecidos) expuseram a ousadia de Fernanda, que nunca se contentava com o mais do mesmo. E toda tentativa de sair da mesmice tem um preço. "O Sistema" (2007), "O Dentista Mascarado" (2013) e "Vade Retro" (2017) não foram grandes trabalhos da dupla de escritores, mas ao menos não sofreram várias modificações para elevar a audiência. O erro era mantido até o final para fechar o ciclo sem perder a essência dos respectivos seriados. Esses equívocos, inclusive, implicaram na ida da dupla para o GNT, canal a cabo da Globo. E a dupla reencontrou o êxito com "Surtadas na Yoga" (2013) --- onde Fernanda também trabalhou como atriz ---, "Odeio Segundas" (2015) e "Edifício Paraíso" (2017): três séries divertidas e com as piadas ferinas já conhecidas.
O último trabalho de Fernanda Young com Alexandre Machado foi "Shippados", série escrita especialmente para a Globo Play, protagonizada por Tatá Werneck e Eduardo Sterblich. Encerraram, sem saber, o ciclo com chave de ouro, pois a trama teve ótima aceitação e recebeu vários elogios da crítica. A autora ainda atuaria em uma peça ---- "Ainda Nada de Novo" ---- ao lado de Fernanda Nobre em setembro. Estava sempre na ativa. Vale lembrar, inclusive, seu ótimo desempenho como comentarista no "Saia Justa" (entre 2002 e 2003) e apresentadora no "Irritando Fernanda Young" (2006/2010), "Duas Histéricas" (2011) e "Confissões do Apocalipse" (2012) --- todas as atrações do GNT. É muito triste perder uma pessoa tão jovem e talentosa como Fernanda. Ainda tinha muito o que escrever, produzir, apresentar e atuar. É uma lacuna que não será preenchida. Sua última frase no Instagram a descreve com precisão: "Onde queres descanso, sou desejo".
13 comentários:
Os Normais, na minha opinião, foi a melhor sitcom brasileira. Grande perda, Sérgio. Que Deus a receba e console os familiares.
Nao acredito que ela se foi...
Como autora (de séries e/ou livros), atriz e/ou apresentadora, Fernanda Young deixou sua marca na história da TV brasileira, e deixará muitas saudades.
Guilherme
Realmente chocante,triste!! Que ela descanse em paz ! abraços,chica
Recentemente assisti Como aproveitar o fim do mundo pela internet. E AMEI. Vai fazer muita falta. Só ela é o marido conseguiam escrever exatamente daquele jeito que só eles tinham tal habilidade. Era uma identidade. Já deixa saudades e tomara que o marido possa continuar escrevendo bem. Onde ela estiver, estará feliz o vendo seguir nessa carreira.
OI SÉRGIO!
EXTREMAMENTE TALENTOSA E MERECEDORA DE TODAS AS HOMENAGENS QUE RECEBEU, PENA QUE TENHA IDO TÃO CEDO, AINDA TINHA MUITO A DAR.
BELA CRÔNICA, AMIGO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Transgressora, Fernanda ficou conhecida por quebrar paradigmas, tanto na televisão, quanto nos livros e até mesmo na vida pessoal. Era ativa no seu perfil na Internet, publicava sobre seus trabalhos no Instagram e fazia críticas sociais.
Você já leu algum livro de Fernanda Young? Aqui está uma lista de livros:
Aritmética
Some triângulos amorosos, traições e desejos, multiplique pelas culpas e você terá como resultado Aritmética, um dos principais romances de Fernanda Young. O livro usa como fio condutor a relação de amantes do escritor João Dias com a aposentada América, ambos com 75 anos, para descrever um círculo de relacionamentos que mistura amor, desejo, raiva, tristeza e frustração numa equação só solucionada nas últimas páginas.
Tudo que você não soube
Fernanda Young troca o humor ácido por um tom amargurado para contar, em primeira pessoa, a história de uma mulher que escreve ao pai moribundo, com quem não fala há anos. Nessa longa carta, a personagem faz um resumo detalhado da sua vida, dividida entre o desejo de chamar a atenção do homem que a colocou no mundo e a vontade de chocá-lo com suas revelações.
Pós-F: Para além do masculino e do feminino
Em sua primeira obra de não ficção, Fernanda Young se insere no acalorado debate sobre o que significa ser homem e ser mulher hoje. Em textos autobiográficos, ela se revela como uma das tantas personagens femininas às quais deu voz, sempre independentes e a quem a inadequação é um sentimento intrínseco. E esse constante deslocamento faz com que Fernanda seja capaz de observar o feminino e o masculino em todas as suas potencialidades.
Estragos
Em Estragos reúne as primeiras aventuras literárias de Fernanda Young, do período entre 1987 e 1995, quando ela tinha entre 16 e 25 anos. Pela primeira vez publicados, os 18 contos deste livro revelam a personalidade de uma jovem buscando seu estilo, um prenúncio do trabalho que viria a desenvolver nos anos seguintes, em seus mais de dez livros publicados.
A sombra das vossas asas
Em A sombra das vossas asas, a autora conta, com sua verve irônica e prosa afiada, a história de Rigel e Carina. Mergulhado num universo de manipulação, fascínio, loucura e dependência, o casal vive um amor destrutivo e, ao mesmo tempo, viciante.
As pessoas dos livros
Prestes a lançar seu terceiro livro e vivendo uma crise criativa e no casamento, a escritora Amanda Ayd se lança num novo projeto literário, que retrata seu sentimento por ela mesma, pelo marido e por sua obra. Mesclando humor e referências pop, a narrativa passeia por três histórias paralelas – a da protagonista e as dos personagens dos livros assinados por ela.
Os melhores momentos de Os normais, com Alexandre Machado
Este livro traz uma seleção dos diálogos mais imperdíveis e impagáveis dos personagens Rui e Vani, as estrelas do programa da TV Globo que virou mania nacional. Os textos revelam toda a faceta dos personagens, revelando histórias inteligentes, apaixonadas e urbanas.
OBS.: Em 2012, o escritor e jornalista Rômulo Zanotto publicou o romance "Quero ser Fernanda Young", uma obra intertextual e antropofágica em homenagem à Fernanda, em que dialoga com a obra literária e audiovisual da autora.
Nem eu, anonimo...
Muitas, Guilherme.
Verdade, Chica.
Tb amei essa série, Matheus!
Merecedora mesmo, Zilani.
Já li sim, Outsiders. Que bom que vc postou essa lista!
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