Conflito dos mocinhos de "O Sétimo Guardião" é muito parecido com o de "Deus Salve o Rei"

A Globo, de uns anos para cá, resolveu adotar um esquema de "produtividade" no seu elenco. Ninguém mais pode se dar ao luxo de escolher trabalhos ou então ficar vários anos contratado sem trabalhar. Isso, evidentemente, gera uma consequência: o desgaste de imagem. Muitos atores têm emendado uma novela na outra. Portanto, os autores deveriam se preocupar ainda mais com seus roteiros para evitar que determinados intérpretes, ironicamente, acabem protagonizando enredos semelhantes.

É o caso de Marina Ruy Barbosa em "O Sétimo Guardião". A atriz acabou de viver uma mocinha em "Deus Salve o Rei", novela das sete de Daniel Adjafre, e agora ganhou outra protagonista na atual trama das nove. As meninas até têm perfis distintos (afinal, uma era plebeia e a outra tem poderes sobrenaturais), porém, o conflito em torno do romance dos mocinhos lembra muito o da produção medieval, que ainda está fresca na memória do público ---- acabou no dia 30 de julho de 2018, há apenas seis meses.

Amália conheceu Afonso (Rômulo Estrela) quando o rei estava agonizando em um matagal, após ter sido atingido por uma flecha. A mocinha cuidou do rapaz, salvou sua vida e os dois se apaixonaram. Porém, ele escondeu sua verdadeira identidade e fingiu ser um plebeu. A felicidade, claro, não durou muito e logo a feirante descobriu que namorava o herdeiro do trono de Montemor.
O romance era inadmissível para a realeza e o neto da Rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho) resolveu abdicar do trono para viver seu amor. A atitude implicou em uma sucessão de problemas e, tempos depois, o mocinho precisou assumir o seu lugar para salvar a população e seu reino.

E como tem sido o relacionamento dos mocinhos na novela das nove? Luz conheceu Gabriel (Bruno Gagliasso) em uma estrada, logo após um acidente que feriu gravemente o rapaz. Como tem poderes, a menina sonhou com a tragédia e foi ao encontro do até então misterioso homem, guiada pelo gato Léon. O mocinho estava enterrado vivo, pois Sampaio (Marcello Novaes), que o perseguia a mando de Valentina (Lília Cabral), achou que o filho da sua patroa não havia resistido. A mocinha o desenterrou, o salvou e o abrigou em sua casa.

Como se não bastasse esse começo bastante semelhante ao do folhetim anterior, Gabriel é o escolhido para ser o sétimo guardião da fonte milagrosa de Serro Azul. Ele é filho de Egídio (Antônio Calloni), o guardião-mór do local, que estava marcado para morrer e não resistiu quando caiu da escadaria que dava acesso ao lugar sagrado. A questão é que o guardião principal da nascente não pode ter qualquer relacionamento amoroso, precisando viver exclusivamente para cuidar e proteger aquelas águas. Tanto que Egídio precisou abandonar Valentina, seu grande amor no passado. Ou seja, todo o contexto é praticamente idêntico ao de "Deus Salve o Rei", guardadas as devidas proporções. Até mesmo a morte de um poderoso, cedendo seu lugar ao herdeiro. No caso de Afonso foi uma rainha e no de Gabriel um guardião.

E Marina Ruy Barbosa é uma figura importante nas duas tramas. No caso, ironicamente, vivendo duas mocinhas que enfrentaram problemas de construção. Amália teve um desenvolvimento equivocado na trama das sete. Vivia exclusivamente o enredo de Afonso e com o tempo a plebeia perdeu força. Não por acaso, outros dramas despertaram mais interesse, como o poder das bruxas e a maldades dos vilões. No entanto, Marina teve um bom desempenho e sua química com Rômulo Estrela era visível. Já na atual trama nada funciona. A química entre a atriz e Bruno Gagliasso é nula e falta de atrativos do par era visível ainda no clipe de apresentação do folhetim. Para culminar, Luz é antipática e tem um ar ''blasé". Impossível torcer por ela. A dita protagonista também parece avulsa no roteiro e suas tentativas de descobrir o que se passa com Gabriel irritam. Marina nem parece à vontade em cena. Talvez seja o seu pior momento na carreira.

O rompimento da relação dos protagonistas por conta da fonte milagrosa tinha o intuito de aumentar a torcida para o romance, afinal, é para isso que conflitos servem no drama de qualquer casal de novela. Mas o par é tão insosso que a ruptura foi até algo positivo. Gabriel tem bem mais função no roteiro se reunindo com os guardiões e tentando descobrir os planos da mãe do que ao lado de Luz, protagonizando cenas melosas e artificiais. Aliás, esse período de separação acaba novamente provocando uma inevitável lembrança da história medieval ----- vide o período em que Afonso precisou se afastar de Amália para exercer sua função de rei.

"O Sétimo Guardião" vem se mostrando cada vez mais desinteressante e um dos muitos problemas da novela de Aguinaldo Silva é justamente o casal de mocinhos. Além do contexto ser muito semelhante ao de "Deus Salve o Rei" e ter a mesma atriz como mocinha, o autor conseguiu criar uma situação bem menos atrativa que a da novela das sete. Ao contrário do rei e da plebeia, são protagonistas que não fariam falta se não existissem e isso é grave em qualquer enredo.