quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Record é a única culpada pelo atual fracasso de sua teledramaturgia

Na última sexta (26/01), chegou ao fim "Belaventura", trama medieval de Gustavo Reiz, ocupando a faixa das sete. A trama teve seis pontos de média geral, um índice pífio. Mas não foi o único fracasso da Record no atual período. A reprise de "Os Dez Mandamentos" também amarga baixos índices e a novela "Apocalipse" faz jus ao seu título, sendo uma verdadeira catástrofe nos números do Ibope. Entretanto, tudo isso tem uma única culpada: a própria emissora.


Começando pelo folhetim que substituiu a re-reprise de "Escrava Isaura". O enredo de Gustavo teve um começo promissor, mas aos poucos o autor foi se perdendo. A trama tinha poucos acontecimentos e não prendia o telespectador. Para culminar, o casal protagonista teve dois atores limitados: Bernardo Velasco e Rayane Moraes, que não transmitiam emoção. O elenco, por sinal, deixou bastante a desejar com raras exceções (Helena Fernandes, por exemplo, que deu show como a grande vilã Marión).

Ficou claro que o escritor não esteve inspirado, não conseguindo repetir o êxito de "Escrava Mãe" (2016). Todavia, a novela ainda conseguia se manter com uns 9 pontos de audiência. Bem longe do que a emissora pretendia e marcando menos do que a re-reprise que a antecedeu, mas, ainda assim, uma média razoável para a faixa das sete. O naufrágio de "Belaventura" se deu quando a Record resolveu reprisar "Os Dez Mandamentos" na faixa das seis, tentando copiar a Globo com três novelas no ar.
Afinal, a trama bíblica foi exibida em 2015, transmitida nos cinemas pouco tempo depois, e ainda teve uma péssima segunda temporada com o intuito de esticar ainda mais o sucesso. O público naturalmente não aguenta mais.

Reprisar um folhetim que foi exibido há dois anos é o cúmulo do absurdo. O resultado, obviamente, foi o pior possível. Concorrendo com a primorosa "Novo Mundo", na Globo, e as tramas mexicanas do SBT, a obra de Vivian de Oliveira ficou em terceiro lugar e muitas vezes perdia do "Brasil Urgente", da Band. Sofria para alcançar míseros 5 pontos. Tentando plagiar mais a líder, o canal também colocou um jornal local logo depois. Não surtiu efeito algum. O efeito 'dominó' se mostrou inevitável. Ou seja, derrubou os índices da emissora dos bispos, piorando ainda mais a média de "Belaventura", que caiu para 5 pontos. Antes a produção ao menos herdava índices favoráveis do "Cidade Alerta" e se continuasse conseguiria se manter com uns 8 pontos.

O que salvava relativamente a Record nessa época era a exibição de "O Rico e Lázaro", novela bíblica que conseguia ao menos uns 11/12 pontos. Todavia, já havia um claro desgaste desse tipo de formato, observado melhor com o enredo de Paula Richard ---- o folhetim anterior, "A Terra Prometida", marcava por volta de 14 pontos. Havia uma aposta alta em "Apocalipse", por ser de autoria da responsável pelo fenômeno "Os Dez Mandamentos". Também contava a favor da nova obra o fato de ser uma história baseada na bíblia, mas contemporânea, quebrando a longa sequência de formatos de época.

Mas a emissora não tinha ideia do fiasco que viria. O que estava ruim podia piorar. E piorou muito. "Apocalipse" teve um primeiro capítulo com excelente audiência e o enredo de Vivian de Oliveira parecia promissor, apesar de algumas 'tosquices' observadas durante as aparições do diabo, narrado por Sérgio Marone. No entanto, ao longo das semanas, a audiência foi caindo assustadoramente e o clima pesado do roteiro foi afastando o público, assim como a quantidade excessiva de fases e núcleos desconexos. A Record, então, resolveu interferir na produção da autora, mexendo no texto (a própria narração do demônio já era uma imposição da Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo, dono do canal). A catástrofe pôde ser observada com mais clareza quando a igreja católica começou a ser 'satanizada' através de cenas que a revelavam sombria e dominada por um cardeal sem caráter (Stefano - Flávio Galvão). Já o pastor Ezequiel representa a honestidade, interpretado pelo ótimo Zécarlos Machado. A audiência diminuiu ainda mais.

Atualmente, a atual trama de Vivian de Oliveira vem marcando cinco pontos, se firmando como um dos maiores fracassos da emissora. A própria autora demonstra insatisfação e chegou a retirar do seu perfil em uma rede social que era escritora dessa obra. Para culminar, a Record resolveu cancelar a produção de "Topíssima", folhetim que substituiria "Belaventura" na faixa das sete. Escrita por Cristianne Fridman, a história era baseada em um argumento da filha do Edir Macedo e já tinha todo o elenco escalado (e contratado). Sem maiores explicações, a emissora cancelou o projeto e deixou todos os responsáveis apreensivos. Agora o objetivo da cúpula da Record é aproveitar os intérpretes contratados em outros projetos, como séries e a novela "Jesus", que substituirá "Apocalipse" (decisão que também foi de última hora). Ou seja, a obra de Gustavo Reiz ficaria sem substituta.

Porém, novamente houve outra mudança repentina. A emissora resolveu transferir a reprise de "Os Dez Mandamentos" para às 19h45, encerrando sua exibição na faixa das seis. A mudança começou na última segunda-feira (29/01) e até aumentou um pouco a média da reexibição. Portanto, atualmente só há uma novela inédita no ar e sendo produzida pelo canal, que investiu milhões no projeto. O resto virou uma grande incógnita. "Topíssima" voltará a ser produzida no futuro? "Jesus", escrita por Paula Richard, vai realmente sair do papel, substituindo "Apocalipse"? Que séries seriam essas que serviriam para aproveitar o elenco da trama cancelada? Com o fim da faixa das seis e das sete, haverá mesmo só tramas às 20h30?

Lamentavelmente, toda essa catástrofe é fruto da incompetência da própria Record, que demonstrou mais uma vez não saber lidar com o sucesso e nem administrar um setor de teledramaturgia. Tanto que o autor Marcílio Moraes, contratado da emissora e na geladeira desde a excelente minissérie "Plano Alto" (2014), escreveu um texto deixando bem claro que o sucesso da Globo se deve ao fato de sempre dar total liberdade aos autores e planejar muito bem todas produções que vão ao ar. Ele, ironicamente, deteve nos últimos meses a maior audiência da emissora dos bispos, pois a reprise de "Ribeirão do Tempo" (2011), trama de sua autoria e encerrada no último dia 23, conseguia ótimos índices à tarde. Se continuar enfiando os pés pelas mãos em busca de Ibope a qualquer custo, o canal com certeza verá a vice-liderança voltar definitivamente para o SBT, como já vem ocorrendo há um bom tempo, vide o êxito de "Carinha de Anjo", por exemplo. É uma pena que isso ocorra, pois todos perdem: o público, o mercado dos atores e a concorrência.

24 comentários:

  1. Uma amadora e não tem planejamento nenhum.Ninguém aguenta mais novela bíblica e ela continua insistindo porque aquela tosqueira de Os Dez Mandamentos fez sucesso.Virou o Chaves da Record. Contratou um bando de ator pra depois não saber o que mais fazer com eles com o cancelamento da nova novela.É uma vergonha!

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  2. Como dizem os jovens: eh isto. A Record se empolga com o sucesso, basta ver que a segunda temporada de 10 Mandamentos já deu bem menos audiência e repercussão que a primeira, e que os números da obra no cinema são fraudes, já que rolou aquele esquema de darem ingressos nas igrejas, etc. A verdade é que a melhor fase da dramaturgia da Record foi lá por 2004-2010, quando tinham novelas boas como Prova de Amor, Chamas da Vida, e também a saga dos Mutantes (que eu detestava e achava tosco, mas fez um sucesso inegável). Tanto é que foi nessa época que vários ex-globo foram pra lá, e agora estão voltando. A Record tem que decidir que tipo de dramaturgia querem fazer, porque se for pra ficar na mão dos religiosos, vão ter que se conformar apenas com o público evangélico mesmo, afastando o resto das pessoas e como consequência tendo essa audiência pífia.

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  3. tudo isso mesmo Sérgio, a Record precisa rever seus conceitos em relação à teledramaturgia, parar da busca de Ibope a qualquer custo, interferir na atuação dos autores e 'quetais', tentativa de 'plagiar' a plim-plim, pouco que sei tem uma das melhores equipes de produção do país;precisa se 'reinventar', belos dias,abraços!

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  4. Detesto as novelas da Record. Trama arrastada, atores inexpressivos e colocam nomes dificeis nos personagens. Entendo que são tramas biblicas, mas nem todos se identificam
    big beijos

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  5. Olá, tudo bem? O telejornalismo é o ponto forte da Record. Exibir cinco novelas na grade de programação foi uma total loucura.... Agora, acertaram, a grade de programação. E os índices já reagiram no IBOPE. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net

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  6. Puxa Sérgio concordo plenamente com você, perdem todos: o público,a concorrência e o mercado de trabalho para os atores.
    E só a emissora é responsável por ter chegado a esse ponto.
    A saturação foi demais e mesmo com muita boa vontade não dá para acompanhar :(
    Quem sabe no futuro as coisas não mudem de figura né?
    Vamos torcer :)
    Bjs Luli
    Café com Leitura na Rede

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  7. Que texto, meus amigos, que texto! Única novela da era atual da Record que acompanhei foi Escrava Mãe - que pra mim foi muito boa dentro de suas possibilidades -, mas quando começou a fazer sucesso, foi destruída pela Record com resumos intermináveis no começo e no fim dos capítulos, além de intervalos longos e (sei lá) uns 10 minutos de novela inédita. As tramas bíblicas nunca me chamaram atenção, mas acho que o sucesso de Os Dez Mandamentos foi sorte da emissora, senão, o público ainda estaria lá. Tentei assistir Apocalipse. Não entendi nada, além de achar extremamente boba com aquela sombra preta, aquela Itália mais fake que nota de $3 e a narração desnecessária. Voice over funciona no cinema ou em alguma adaptação curta pra TV; ponto final. Em novela, é brega, pra dizer o mínimo. Uma pena que a Record esteja mal das pernas em se tratando de teledramaturgia (como você falou: É ruim pra todos!), mas acho que é meio lei do retorno porque até uns anos atrás a novela deles era só tráfico de drogas (lembro que Vidas Opostas começou maravilhosa e se tornou insuportável de assistir com o tempo porque a história central se perdeu em prol das rivalidades entre os traficantes) e agora eles ficam vendendo ate esmalte de unha de novela bíblica e usando apresentadores de grande apelo popular pra criticar a novela da emissora do lado pra conseguir uma migalha de audiência. Vamos aguardar e ver o que acontece, mas acho que depois de chegar em "Jesus" (se é que chega) não sobrará mais nada a ser adaptado da Bíblia. Alias, quero ver chegar em Jesus via novela sem contar uma história de amor

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  8. Concordo totalmente com o texto. A Record é amadora no campo das novelas. Não têm tradição alguma nisso, se fazem sucesso é por pura sorte, como foi no caso de Os Dez Mandamentos. Foram incompetentes em administrar esse "sucesso" (não sei nem como fez sucesso) e estão atropelando outras produções. Como que essa emissora ainda não faliu?

    Com essa novela Apocalipse, ficou mais evidente tbm a doutrinação que eles querem fazer em todo mundo, apenas visando mais dizimistas para a Universal. Colocam a filha do dono da IURD como diretora de teledramaturgia pra ela cagar lindamente o setor, como tá fazendo. E não bastando isso, ainda coloca outros pastores metendo a colher na história.

    Um dia desses, me peguei assistindo uma dessas novelas que tá sendo reprisada à tarde e é notório que é um texto sem graça, que vai do nada a lugar nenhum. Isso prejudica muito os atores, que precisam fazer um verdadeiro jogo de cintura para passar a emoção necessária para a cena. A direção parece tão preguiçosa que não dá o tom certo para os mesmos.

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  9. Muito obrigado, anonimo. E que comentário excelente o seu. Assino embaixo.

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  10. Não seria possível fazer um exame sobre grade de programas do SBT, Band e TV Cultura? Tem outros programas de novelas, reality show, documentários que tem lados positivos e negativos para analisar sobre essas emissoras. Acredito que fazer analises pode trazer críticas construtivas e desenvolvimento para TV brasileira!

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