"A Força do Querer" está perto do seu fim e merece todo o sucesso. Mas, a trama de Glória Perez, dirigida por Rogério Gomes, também apresentou defeitos, já mencionados aqui, como a passagem de tempo de um ano, a vilania fraca de Irene (Débora Falabella) e alguns perfis que prometeram e não cumpriram, por exemplo. E, infelizmente, outro erro foi a desnecessária gravidez de Ivana/Ivan (Carol Duarte), descoberta na reta final da história.
A situação pegou muitos telespectadores de surpresa, afinal, o agora rapaz nunca mais viu Cláudio (Gabriel Stauffer) depois da passagem de tempo de um ano. Então, obviamente, vários questionaram a hora que essa criança foi concebida. Entretanto, a personagem transou com o ex uma única vez depois desse ano. A questão é que ninguém percebeu isso, pois realmente pareceu que foi antes. Ou seja, não teve relevância alguma para o andamento dos conflitos. Portanto, compreensível o estranhamento. O 'curioso' é que isso é o de menos.
Afinal, a demora na descoberta dessa gravidez ficou totalmente inverossímil. Se passaram mais de três meses e todos sabem, até homens, que mulheres ficam com sensibilidade nos seios (e os mesmos crescem) durante a gestação, por exemplo. Mas, Ivana não percebeu nada. Nem mesmo quando enfaixava os seios, os apertando fortemente para fingir que não tinha nada. Não doía mais que o normal, não? E a interrupção da menstruação, claro, é o maior sinal de um bebê a caminho.
Só que nesse caso dá para entender, pois o uso de testosterona interrompe o período menstrual, além de engrossar a voz, provocar o nascimento de pelos, enfim. Porém, esse fato esbarra em mais um contexto fantasioso ao extremo.
Ivana começou a injetar hormônio masculino em seu corpo pouco tempo depois dessa 'recaída' ---- segundo Glória, no dia 27 de julho ----, já que conheceu o trans Tarso Brant, finalmente descobrindo o que ela era. Ou seja, já era para ter sofrido um aborto. Se até os homens que usam testosterona sem prescrição médica sofrem com esterilidade, imagine uma mulher. O uso de hormônio masculino em uma mulher que se vê como trans, por exemplo, acaba atrofiando os ovários e o útero, segundo médicos especializados. Não havia condição de Ivana carregar um feto por quatro meses, como ocorre na trama. Até porque nem há acompanhamento médico e a gravidez foi 'acidental'. É importante observar, inclusive, que há homens trans que engravidam, sim. Não é irreal. A diferença é o planejamento familiar. Todos fazem tratamento com médicos e têm que parar de usar hormônio masculino, pois todos os hormônios femininos são importantes para a saúde da gravidez.
Novela não tem que ensinar nada, pois é entretenimento, mas, querendo ou não, esse fato acabou sendo um duplo desserviço. Primeiro porque não mostrou nenhum efeito grave que o uso de testosterona sem acompanhamento pode causar ---- o único efeito colateral foi um ataque de raiva diante de Zu (Cláudia Mello). E, segundo, porque mostrou, de forma involuntária, que um homem trans só recebe o apoio da família quando engravida. Sim, pois foi isso que ocorreu. Ivan só voltou para casa, fazendo as pazes com Joyce (Maria Fernanda Cândido), porque contou sobre a gravidez. A mãe não esconde a esperança de ter a filha de volta por causa disso.
E o pior de tudo é a forma como a personagem perde o bebê: espancado por homofobia. É válido demais expor a sociedade intolerante e preconceituosa (ainda mais atualmente), mas fazer Ivan abortar por um fator que nada tem a ver com o uso indiscriminado de testosterona é absurdo. Se essa perda viesse por conta do uso do hormônio, sem dúvida, seria uma ótima solução para toda a situação desnecessária criada na reta final. Além disso, é preciso citar ainda a forçação em torno do amor de Ivan por Cláudio. O casal raramente teve momentos românticos, pois ela sempre estava incomodada perto dele (por ainda não saber quem era) e o ex sempre fez questão de fazê-la mais feminina. A junção deles no fim, o que deve ocorrer, será mais fantasiosa que um conto de fadas da Disney. Depois de todos os problemas apresentados, Cláudio verá Ivana como homem, não estranhará, e se descobrirá bissexual? Muita informação.
Glória Perez merece todos os elogios possíveis pela coragem em retratar o transgênero, entrando para a história da teledramaturgia. Carol Duarte está maravilhosa em "A Força do Querer" e é a maior revelação do ano. A vida dessa personagem foi apaixonante e cativou o público. Mas, essa gravidez na reta final acabou soando irreal demais, prejudicando, em parte, uma trajetória que estava até então irretocável. Não precisava mesmo.
TU É FODÁSTICO, SÉRGIO!!!!!!!
ResponderExcluirEu não entendi até agora essa gravidez e quando vi que abortou hoje fiquei ainda mais em duvida sobre a relevância disso pra novela. Nenhuma.
ResponderExcluirTexto preciso e bem embasado. Nem sabia disso de atrofiar útero mas já imaginava que engravidar por acidente tomando hormônio não dava pra engolir.Novela de Gloria Perez sem voos não é novela de Gloria...
ResponderExcluirVc sempre sensato e justo nas suas críticas. Achei essa gravidez uma estupidez.
ResponderExcluirOlá Sérgio
ResponderExcluirParece que a novela está um tantinho apressada nessa reta final e um tiquinho cheia de informações desnecessárias :(
Onde é que eu assino seu texto heim, perfeito e absolutamente coerente!
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede
A Glória viaja muito, e é bastante seletiva quando o assunto é justiça,tá fazendo de tudo p Ruy e a Bibi virarem os coitadinhos, e sairem limpos.
ResponderExcluirA cena da agressão ao Ivan também foi extremamente forçada, homofobia é real mas a Glória força demais a cena foi estúpida e gratuita.
Oi, Sérgio, apesar de ouvir muitas críticas, considero importante que novelas e séries incluam em seu corpo de personagens todos os gêneros para diminuir preconceito e discriminação, então apoio a inclusão de transgênero em seu roteiro. Mas a gravidez me parece tirar a credibilidade da intenção. Abraços!
ResponderExcluirOlá Sérgio!!
ResponderExcluirA trajetória da Ivana estava mesmo muito boa até aqui, mostrando todas as fases que uma pessoa transgênero passa, informando e com elementos de um bom folhetim; até mesmo essa questão da sexualidade dela foi um acerto e tanto, pois mostra que, apesar de ligadas, gênero e orientação sexual são duas coisas distintas.
Porém, essa história da gravidez ficou muito forçada e irreal, por todos os motivos citados no texto. No início, eu achei a Ivana teria uma menina e a Joyce poderia criar a neta do jeito que sempre sonhou; mas, com o aborto, nem para isso essa trama serviu.
No mais, é isso. Abraços!
P.S.: Quanto a questão da cronologia, o que eu entendi foi o seguinte: a Ivana até tentou se encontrar com o Cláudio antes da passagem de um ano, mas não deu certo porque ele sofreu um acidente de carro (na frente dela inclusive); quando ele voltou, um ano depois, eles viajaram e transaram uma única vez: foi o auge da rejeição da Ivana ao próprio corpo. No dia seguinte, ela conheceu o Tê e isso desencadeou todo o seu processo de descoberta e transição. Não deixou de ficar muito forçado, mas pelo menos ajudou um pouco a engolir isso.
Corrigindo o começo do seu texto: Eles transaram DEPOIS da passagem de um ano e a cena foi aquela da transa que todos viram, não teve nada disso de recaída que foi comentada, só você pesquisar direito pra ver. Entretanto, o restante do seu texto está preciso e concordo com todo o resto. Ótima crítica!
ResponderExcluirOlá Sérgio! Realmente eles transaram depois de um ano. Minha memória é ninja, mas como você falou no seu ótimo texto isso é o de menos. Mas vamos lá...
ResponderExcluir1: Eu sou uma escritora de gaveta (hahaha) Então eu vejo muita coisa sobre técnicas de escrita e uma coisa que eu aprendi é que as coisas que o autor insere na estória tem que ter um propósito para o enredo e na minha opinião essa gravidez (Que ficou parecendo o suco do Chaves. kkk) e esse aborto não teve nenhuma importância relevante pra estória, não é legal você colocar uma situação apenas pra chocar e o fato disso ter sido usado pra aproximar ela e a mãe ficou forçado, uma vez que essa aproximação ia acontecer de qualquer jeito.
2: Aonde que um feto sobrevive a esse bombardeio de hormônios? Sei de casos de mulheres que sofreram aborto por causa de chá, imagine então hormônios cheios de química, Aliás, essa questão como você pontuou deveria ter sido melhor abordada porque tomar hormônio clandestinamente sem acompanhamento médico traz consequências desastrosas.
3: Coerência. Até dentro de estórias de fantasia onde se é possível ♪voar, voar, subir, subir♫ existe coerência. Porque o Claudio se descobrir bi e se apaixonar... É... Não, não. Não tem nenhuma coerência, lógica e o pior é que eles não são shipaveis (Pelo menos não pra mim) porque quando eles estavam juntos bem... Não preciso comentar.
4: Com todo respeito vou discordar de você em um ponto. Eu não concordo com essa coisa de a sociedade é isso, a sociedade é aquilo porque quando colocamos a sociedade é o todo inclusive nesse caso os homossexuais e etc e quem luta contra a homofobia, ou seja não tem assim muita lógica, pelo menos não pra mim e outro ponto quando falamos a sociedade tiramos a culpa do individuo e a transferimos para o coletivo e dessa forma ninguém aprende nada, afinal se o problema é a sociedade os outros que se corrijam primeiro e não eu e dessa forma o José, a Maria e etc tem os mesmos pensamentos um fica esperando pelo outro e ninguém muda nada. E infelizmente o termo homofobia está sendo banalizado, uma coisa por ex é uma pessoa não concordar com a homossexualidade seja por questões religiosas, morais, enfim...Afinal ninguém é obrigado a concordar com nada, no entanto outra coisa muito, mas muuuito diferente é a pessoa agredir, perseguir, matar, difamar a outra apenas por conta de sua sexualidade isso sim é homofobia pra mim e quem faz isso é que deve ser devidamente punido e nenhuma campanha de conscientização vai resolver enquanto a culpa for relativa.
5: Bom, me desculpe se disse algo que tenha ofendido não foi minha intenção.
Obrigado, anonimo!
ResponderExcluirFoi mt desnecessário, Vinicius.
ResponderExcluirMt obrigado, Cassia!
ResponderExcluirValeu, anonimo. Tb achei.
ResponderExcluirConcordo plenamente, Luli. bjs
ResponderExcluirA cena da agressão serviu de alerta, mas tb achei forçada, anonimo.
ResponderExcluirPerfeito, Vane!
ResponderExcluirPreciso comentário, Germana!
ResponderExcluirObrigado, Johny.
ResponderExcluirMt obrigado, Leitora.E vc não ofendeu em nada, não se preocupe. bjsssss
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