Do elenco original, apenas três continuaram: Júlio Andrade (o médico Evandro) e Marjorie Estiano (a doutora Carolina), que protagonizam a história, além de Stepan Necerssian (o doutor Samuel, diretor do hospital) e Josie Antello (a atendente Rosa). O contexto segue o mesmo do filme, pois o enredo proporciona conflitos infinitos. O trio se vê diante de uma rotina desumana na emergência de um hospital público, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro. O maior vilão é a falta de recursos da saúde pública do país, resultando em equipamentos quebrados, ambiente caótico e condições deploráveis, onde a tensão é uma das principais 'personagens'.
Liderados pelo cirurgião Evandro, todos os médicos e enfermeiros do local precisam se virar para honrar a profissão e salvar vidas, enfrentando uma sucessão de problemas graves que nunca cessam. Uma hora falta luz, em outro momento o desfibrilador não funciona, não há leitos disponíveis, a fila de atendimento só aumenta, enfim...
Situações que todo brasileiro já viveu e vive em hospitais públicos. Impossível acompanhar a trama sem se identificar com qualquer drama daquelas pessoas, que se dividem entre os que lutam para viver e os que batalham para salvar vidas. É uma realidade nua e crua disfarçada de ficção.
O primeiro episódio já mostrou que a série é melhor que o filme. Isso porque foi tão denso quanto o longa, tendo uns 20 minutos a menos. Ainda começou mostrando um trauma que o protagonista carrega: a morte de sua esposa. A sequência em que Evandro recebeu a mulher, Madalena (Natália Lage), ferida no hospital e, mesmo contrariando a ordem de Samuel, operou a paciente e a perdeu durante a cirurgia, teve uma grande carga dramática, destacando uma ferida que o personagem nunca cicatrizou. Após esse instante tenso, um ano se passou e já foram exibidas cenas que representam o período pós-filme, pois Ana Lúcia (Andrea Beltrão) chegou a ser citada pelo diretor.
A partir de então, os novos conflitos começaram a ser expostos, apresentando os novos personagens à medida que pacientes chegavam. A relação entre Evandro e Carolina segue como o ponto alto do enredo, em virtude da sintonia dos atores e da riqueza dos perfis. Além da densidade de Evandro (um médico íntegro, mas calejado pela vida, que faz qualquer coisa para salvar pessoas), há também o drama da médica, que foi abusada sexualmente pelo pai na infância, carregando até hoje cicatrizes pelo corpo. Apesar desse traumático passado, a cirurgiã é alto astral e tem um temperamento bem mais leve que o colega. Esse contraste deixa o par provocativo. Aliás, a vida de Carol não teve tempo de ser explorada no longa e engrandece a série.
Júlio Andrade é um ator extraordinário e nada mais justo do que protagonizar uma série em canal aberto. Evandro é interpretado com entrega total. Ele brilhou ano passado como Firmino, em "Justiça", sendo necessário ainda citar seu trabalho na série "1 Contra Todos", da Fox. Também fez várias outras participações, mas de menor importância. Já Marjorie Estiano é uma atriz que sempre mostra sua força cênica, se sobressaindo em todos os trabalhos que faz. Carolina entra na sua vasta lista de excelentes atuações. A série ainda conta com Stepan Necerssian tão bem quanto no filme, além de Tatsu Carvalho (o neurocirurgião Rafael), Pablo Sanábio (o residente Charles), Bruno Garcia (o clínico-geral Décio), Talita Castro (a técnica de enfermagem Kelly), Josie Antello (Rosa), Heloisa Jorge (a enfermeira Jaqueline), Ângela Leal (Dona Noêmia, responsável pela cantina) e Orã Figueiredo (o anestesista Almir).
Aliás, a presença de Orã tem a função de um alívio cômico que não existia no filme. O simpático Almir tem duas mulheres ---- Violeta (Letícia Isnard) e Liliana (Renata Gaspar) ----, protagonizando situações engraçadas, e até no hospital profere algumas pérolas, vide a hora em que rolou um clima entre Evandro e Carol durante uma cirurgia e ele perguntou se deveria sair para deixá-los à vontade. Emiliano Queiroz é um grande nome que também reforça o time e seu personagem é um dos mais reais: Seu Rivaldo, um idoso que está há meses no corredor do hospital esperando atendimento e não sai da sua cama com medo de perder a maca.
"Sob Pressão", dirigida por Andrucha Waddington e Mini Kerti, tem potencial para muitos episódios (pena que serão apenas nove) e a trama honra toda a riqueza que o drama da rotina de um hospital público pode proporcionar. Ao contrário das produções americanas (como "Grey`s Anatomy", a mais famosa), o maior elemento conflitivo de uma série médica brasileira é a falta de recursos. E a história de Jorge Furtado ---- que escreve com Antonio Prata, Lucas Paraizo e Márcio Alemão, tendo a consulta de Marcio Maranhão, autor do livro ---- expõe isso com dura veracidade. Tem tudo para ser a melhor série do ano. A segunda temporada já foi encomendada e basta assistir para ver o porquê.
20 comentários:
Que série EXCELENTE!
Nunca vi o filme, mas adorei esse primeiro episódio. Me fez lembrar aqueles seriados norte americanos, mas na nossa versão brasileira. Acho que essa série tem todos os elementos para ser um sucesso e cair no gosto do público.
Seu texto ficou maravilhoso igual a série.Fiquei arreepiada e Marjorie é uma atriz e tanto. Júlio também. Personagens ricos e dramas reais. Só nove episódios? Não gostei. Essa Os Dias Eram Assim parece interminável e essa boa acaba rápido.
Olá Sérgio
Vou confessar uma coisa: antes do filme eu tinha certeza de que essa série não faria minha cabeça, sei lá, pensei numa coisa assim desgaste político blééé, massssss me fisgou direitinho e quando fui ver já estava ansiosa esperando pela série.
Concordo com vc, exatamente a diferença entre as séries americanas sobre rotina em hospitais deu o tom da empatia e da identificação com os personagens e com as situações que estão nos noticiários de cada dia, que muitas vezes nem conseguimos imaginar.
E que interpretações!
Nem posso falar do Julio Andrade (que na minha opinião é um monstro, geeeeente ele atua com maestria, é maravilhoso) e da Marjorie (que vi na Malhação e que é uma das melhores atrizes já há algum tempo)porque sou fã, mas me surpreendeu todo o elenco alinhavado.
Destaque para Stepan e Orã!
Nunca pensei dizer isso, mas denúncias e protestos podem ser feitos siiim com poetice, como com tanta sensibilidade está sendo feito nessa série.
Parabéns pelo post, está incrível <3
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede
Sergio, meu querido, estou aqui as 3h ainda sem folego. Tinha adorado o filme, amado o primeiro episodio da serie e, para minha surpresa, descobri que o segundo pode ser ainda mais impactante. Estou ate agora remoendo a historia da personagem da Griphao (que atuacao, alias), as dores e dramas da Dra Carolina (Marjorie e sua atuacao com o olhar dominam o 2o ep)...
E nem sei quais adjetivos usar para falar dos trabalhos do Julio e Marjorie. A globo nao poderia ter sido mais feliz na escalacao. Os dois atuam com tanta verdade que nao tem como nao se comover e se emocionar com as historias do Evandro e Carolina. A gente se pega torcendo por eles a cada perrengue no hospital. Mais ainda quando acessa aos dramas particulares de cada um. Dois monstros!!!
Cara, acho que desde "Justica" que a Globo nao produzia uma serie deste nivel. E so uma pena que serao apenas nove episodios. E uma pena tambem que a Globo libere apenas um ep por semana aos assinantes. ;(
Ja na expectativa do terceiro ep. ;)
Alias, vendo esta serie, pensei o quao bonito nao seria trazer um produto que tratasse a rede publica de ensino. Nossos professores, tais quais Carolinas e Evandros, sao igualmente heoris.
Um seriado estilo “MacGyver do SUS” ensinado: “O trabalho sob pressão se torna benéfico a seu bem-estar, quando você entende seu verdadeiro propósito." Só iremos alcançar este MUNDO MELHOR com uma dose de pressão, trabalho duro, educação e inteligência.
Olá Sérgio,
Não tenho nervos de aço para ver essa série, ainda depois do que eu passei com meu pai quando ele ficou internado no sistema público e depois faleceu. Foi triste demais.
big beijos
A série me pegou muito!
Estou ainda sem fôlego depois do segundo episódio que acabei de assistir! A Bruna Griphao emociona, assim como a Marjorie no final do episódio.
Atores excelentes, enredo bem construído, personagens interessantes e produção caprichada. Merece segunda, terceira, quarta temporada!
Série maravilhosa!
Demais, Débora.
Tem total, Worm.
Tb achei pouco, Fernanda.
NMt obrigado, Luli. E onde assino? Comentário perfeito. bjs
Concordo integralmente, Vanessa. Esó a Marjorie msm pra te fazer vir aqui... rs Bjão!
Boa sugestão, Vanessa. Malhação tem tratado disso.
Verdade, Oath.
Nossa, Lulu. Entendo demais isso... Passei por algo parecido. bjs
Segundo episódio tão bom quanto o primeiro, Elder. De acordo.
No Canal Universal produziu programa de ficção original 100% nacional: Unidade Básica. Inspirada em casos reais, a série retrata o dia-a-dia em uma Unidade Básica de Saúde da periferia de São Paulo. Saem os corredores de modernos hospitais americanos e o corre corre do atendimento de emergência, entram as dificuldades de um sistema de saúde com dificuldades financeiras e burocráticas e as diferenças entre duas formas de pensar a medicina, encarnadas em seus personagens principais.
Não cheguei a ver, Izabel.
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