João Emanuel Carneiro ainda não tem muitas produções como autor titular na televisão. São cinco novelas e uma série. Levando em consideração os autores mais experientes, é uma lista pequena. Entretanto, sua carreira já é repleta de sucessos. Pode-se constatar, inclusive, que "A Regra do Jogo", seu folhetim mais recente, é a sua pior produção até agora (mesmo tendo sido uma novela regular), comparando com seus bons trabalhos anteriores. E, entre todas as suas histórias já produzidas, não há dúvidas de que a mais ousada e bem escrita foi "A Favorita", exibida em 2008, que completou nove anos no último dia 2.
A novela marcou a teledramaturgia porque começou a ser exibida para o público sem as 'determinações' clássicas a respeito de quem era mocinha e quem era vilã. O telespectador não ficou na condição privilegiada de saber o contexto do enredo, muito pelo contrário, ele simplesmente passou a fazer parte daquela trama, podendo ser enganado ou não pelas duas principais personagens. Eram duas versões de uma mesma história e a pergunta exposta no teaser era: "Quem está falando a verdade?". Um dos atrativos era justamente bancar o detetive, analisando o comportamento dos perfis.
O público se viu na mesma condição dos personagens, não podendo, portanto, julgar quem acreditava ou não acreditava em quem. Afinal, o telespectador ficou tão em dúvida quanto várias figuras pertencentes ao enredo tão bem trabalhado pelo autor. Porém, João, muito inteligentemente, soube induzir com competência, abusando de esteriótipos clássicos em folhetins.
Portanto, era normal achar que a loira, de olhos claros e cara de sofrida (que havia cumprido pena de 18 anos por ter assassinado um homem) era inocente e tentava se vingar de seus delatores, após ter ficado longe da filha (Lara - Mariana Ximenes) por tanto tempo. Flora (Patrícia Pillar) carregava todos os atributos de uma vítima injustiçada.
Ao mesmo tempo que Donatela (Cláudia Raia), uma mulher rica, arrogante e bem perua tinha todas as características de uma vilã em potencial. E ela sempre garantiu que Flora era uma demônia que havia assassinado seu marido, Marcelo (Flávio Tolezani), a sangue frio. A novela foi se desenvolvendo em torno dessa disputa de 'verdades', e, apesar das induções do autor, não dava para ter certeza a respeito de quem era culpada ou vítima da situação. Havia um clima de suspense constante que deixava a trama imperdível, onde as peças do quebra-cabeças eram encaixadas aos poucos, à medida que os capítulos se desenrolavam. Aliás, essa ousadia do escritor provocou um natural estranhamento do público, refletindo em uma audiência abaixo do esperado nas primeiras semanas.
Porém, a história caiu do gosto popular assim que a grande revelação foi feita, em uma das melhores viradas da teledramaturgia. Após apontar uma arma para Flora, ameaçando matá-la, Donatela é desarmada pela rival, que tira sua máscara revelando seu instinto assassino, enfatizando que a perua nunca teria coragem de apertar o gatilho, ao contrário dela. A partir de então, o enredo começou a seguir o seu caminho tendo a vilã e a mocinha claramente expostas. A reviravolta se deu antes da metade da trama e serviu para destacar ainda mais Patrícia Pillar e Cláudia Raia na história, que passaram a ser ainda mais exigidas.
Com a revelação, inclusive, todo o passado das duas protagonistas foi ficando ainda mais em evidência. Elas cresceram como irmãs e eram unha e carne, pois Donatela perdeu os pais em um acidente e acabou adotada pela família de Flora. Ambas tinham vocação para o canto e acabaram formando uma dupla sertaneja (Faísca e Espoleta) de relativo sucesso ("Beijinho Doce" era a música que marcava a parceria), cujo 'empresário' era Silveirinha (Ary Fontoura), um caça-talentos ---- que depois virou mordomo de Donatela e ainda foi para o lado da Flora quando a então patroa se viu arruinada. A turnê da duas acabou interrompida quando Donatela conheceu Marcelo, provocando imenso ciúmes de Flora, que acabou se envolvendo com o malandro Dodi (Murilo Benício) ---- a vilã ainda mandou sequestrar o filho da 'amiga' (Halley - Cauã Reymond) e teve um caso com Marcelo, desestabilizando de vez o relacionamento com a 'quase irmã.'
O enredo central era repleto de detalhes e foi desenvolvido com maestria por João Emanuel Carneiro, que soube rechear a trama com drama, suspense, viradas e thriller. Até porque uma das cenas mais impactantes da história da teledramaturgia foi protagonizada por Patrícia Pillar e Mauro Mendonça, intérprete do ricaço Gonçalo. Pouco depois de ter descoberto que Flora era uma psicopata assassina, o empresário caiu em uma emboscada armada pela vilã ---- que já havia substituído os remédios do avô de Lara por balinhas ---- e acabou tendo um infarto quando viu todos os cômodos de sua mansão ensanguentados, enquanto ouvia a víbora dizer que sua neta e esposa (Irene - Glória Menezes) tinham sido assassinadas por ela. Uma cena de terror psicológico extraordinária, onde Patrícia e Mauro deram um verdadeiro show de atuação.
A novela também tinhas alguns bons núcleos paralelos. O drama de Catarina (esplêndida Lília Cabral), que era constantemente agredida pelo marido (Leonardo - Jackson Antunes), fez muito sucesso e ainda marcou a estreia de Alexandre Nero nas novelas ---- ele viveu o verdureiro Vanderlei, que era apaixonado por Catarina. O romance de Copola (Tarcísio Meira) e Irene (Glória Menezes) também agradou, assim como todas as situações vividas pela ex-manicure Cilene (Elizângela) e suas meninas que eram 'oferecidas'' como acompanhantes de homens ricos pela quase cafetina ----- Manu (Emanuelle Araújo), Sharon (Giovanna Ewbank) e Melissa (Raquel Galvão). Outros perfis que merecem menção são Zé Bob (Carmo Dalla Vechia), Pedro (Genésio de Barros) --- pai de Flora ---, Orlandinho (Iran Malfitano), Dr. Salvatore (Walmor Chagas) e o alienado Augusto Cézar (José Mayer em um perfil completamente diferente dos seus galãs conquistadores).
Porém, nem tudo funcionou. O autor se equivocou em algumas tramas paralelas, deixando personagens avulsos e com enredos que não foram desenvolvidos a contento. O triângulo protagonizado pelo prefeito Elias (Leonardo Medeiros), a esposa Dedina (Helena Ranaldi) e o amante Damião (Malvino Salvador), por exemplo, não disse a que veio, assim como o núcleo do político corrupto Romildo (Milton Gonçalves), que vivia em conflito com os filhos Alícia (Taís Araújo) e Didu (Fabrício Boliveira). O sonho do tímido Cassiano (Thiago Rodrigues) em ser cantor pouco acrescentou e outros perfis também ficaram deslocados, desvalorizando seus intérpretes, como Tereza (Rosi Campos), Lorena (Gisele Fróes), Átila (Chico Diaz), Dulce (Selma Egrei), Arlete (Ângela Vieira), Cida (Cláudia Ohana), entre outros.
"A Favorita", dirigida por Ricardo Waddington, não foi uma novela impecável em virtude dos problemas em alguns núcleos paralelos, entretanto, foi a trama mais ousada de João Emanuel Carneiro e entrou para a galeria de grandes folhetins da teledramaturgia em virtude do seu forte enredo central, que arrebatou o público. A principal história foi contada com extrema maestria e ainda inseriu Flora no time das grandes vilãs da ficção, cuja personagem é considerada a melhor da carreira de Patrícia Pillar com louvor. Sem dúvida, um trabalho que deixou sua marca e ficou na memória do telespectador.
Que texto MARAVILHOSO!!!!!!!!!
ResponderExcluirAmei essa novela.Os grandes destaques foram a Patrícia Pillar e a Cláudia Raia que brilharam de maneira absoluta, acredita que eu me enganei e achava que a Flora era a boazinha e a Donatela a grande vilã da história?Fiquei muito surpreso na época.Algumas tramas paralelas realmente não deram certo e os atores como consequência acabaram subaproveitados.Mas achei essa novela melhor que Avenida Brasil onde os núcleos paralelos também eram chatos e não funcionaram e muitooooooooo melhor que a antecessora Duas Caras e as chatíssimas Caminho das Indias e Viver a Vida que vieram depois.
ResponderExcluirLembro dela... Desejo ótimo fds! abraços, chica
ResponderExcluirA abertura de A Favorita resume muito bem por meio de uma animação a rivalidade entre Flora e Donatela, antigas parceiras da dupla sertaneja Faísca e Espoleta, que disputaram o amor do mesmo homem, Marcelo Fontini (Flavio Tolezani), um dos donos do império de papel e celulose, a Fontini. Após cumprir uma pena de 18 anos de reclusão pelo assassinato do amante, marido de Donatela, Flora deixa a prisão, disposta a provar a sua inocência, acusando a ex-parceira de ter cometido o crime, e a se reaproximar da filha Lara (Mariana Ximenes), criada pela rival e fruto do relacionamento com Marcelo.
ResponderExcluirUma das curiosidades sobre a produção dessa vinheta é que Ricardo Waddington e o próprio autor, João Emanuel Carneiro, acompanharam de perto os trabalhos. JEC fez também o roteiro para a história contada durante a abertura, que teve as imagens inspiradas nos filmes dos anos 40 e 50, sendo releituras eletrônicas de cartazes dos filmes dessas décadas, que eram em preto e branco, chapados e com figuras recortadas. Além disso, a divisão de tela em vários momentos da abertura demarca a dualidade e a disputa que as protagonistas embatem o tempo inteiro ao longo da novela, até mesmo o público, quando JEC propôs a indefinição sobre os papéis de vilã e mocinha da história.
O tema de abertura foi a música Pa’ Baillar, da banda de tango eletrônico uruguaia/argentina Bajofondo, que casou e acentuou o clima de rivalidade proposto pela peça audiovisual, fazendo com que abertura tivesse mesmo o espírito da novela.
O que me faz assistir ainda A Favorita é o fato de cada dia acontecer uma situação imprevisível (tipo do nada a Flora resolve sequestrar a própria filha, o Harley é filho da Donatella, a Lara é filha do Dodi, entre outras situações). Foi bem melhor que Walcyr Carrasco em verdades secretas pois que nenhuma novela bem estruturada, coerente e sintonizada com a vida real até agora conseguiu ser tão imprevisível quanto essa.
ResponderExcluirA FAVORITA finalmente uma Novela que mostrou, com ação e REALIDADE, nem sempre na vida quem parece bom é NA VERDADE! Esta trama deu uma BOA Lição De MORAL!
Sempre desconfiei de flora , ela nunca olhou para ninguém nós olhos.
Curiosidade na época foi que fiquei sabe é que na Itália todos os italianos que viram a novela todos imaginavam que a flora era a vila só no Brasil todo o mundo caiu. Não está nada diferente na vida real.
Não é de hoje que as cenas de brigas em novelas são um elemento muito usado por seus autores porque são capazes de movimentar as tramas de uma obra aberta, gerando repercussão entre o público. Some-se a isso uma boa dose de tapas e surras que tornaram essas cenas em momentos emblemáticos, além de mulheres sedentas por vingança, justiça e uma série de outras motivações possíveis. Quem disse que mulher é sexo frágil? Isso até vem mudando nos últimos anos.
ResponderExcluirO mais bacana de Flora: a gente fica de queixo caído quando descobre que ela é, na verdade, uma psicopata (muito melhor que a Angel de Verdades Secretas, que Yvone de Caminho das Indias, Laura de Celebridade! Como esquecer sua cara de louca no palco, querendo que todos cantassem seu maior sucesso?
NA minha simples ideia: As melhores novelas desde 2000 foi A favorita, Avenida Brasil, Sete Vidas e Além do Tempo. Até o momento Avenida Brasil está sendo bem posicionada, mas vamos ver p/ frente. São obras magnificas do autores no Brasil pois não existe o melhor apenas professores da dramaturgia!!!!!
Ainda não foi reprisada né?
ResponderExcluirbjokas e um ótimo fds =)
2008... eu ainda estava 'brigando'com minha doença neurológica...e não prestei muita atenção a coisa nenhuma.
ResponderExcluirLembro que gostei da novela e me encantei com Carmo Dalla Vechia (o ator mesmo...).
Gostaria de assistir novamente e prestar atenção. Pela sua crítica aqui, vejo que o elenco é de primeiríssima qualidade.
ABÇ
JAN
A Favorita, uma história marcante, um elenco maravilhoso e a abertura com aquele tango, inesquecível!
ResponderExcluirDepois veio Av Brasil e agora a Força do Querer, estou adorando!
Parabéns pelo post! Amei o que vi, o que li!
Melhor novela do João Emanuel de longe, Patrícia Pillar foi o grande destaque, mas Claudia Raia e Mariana Ximenes também brilharam. Trio impecável.
ResponderExcluirOlá Sérgio!!
ResponderExcluirPra mim, a melhor produção do João Emanuel Carneiro na Globo foi a série A Cura, que infelizmente só teve uma temporada (confesso que não me conformo com isso até hoje). Porém, nas novelas, a melhor foi A Favorita (não pude acompanhar Avenida Brasil, então não posso opinar sobre ela). Me apaixonei logo no primeiro capítulo, até hoje lembro do gancho incrível no final dele, com a Donatela chamando a Flora pra conversar depois de 18 anos.
Também pensei que a Flora era a mocinha no início (acho que todo mundo pensou isso em algum momento rs) mas sempre vi as atitudes da Donatela e achava meio dúbias, de modo que não me surpreendi tanto com a revelação (sem querer me gabar, mas já me gabando kkkk).
Acho A Favorita um acerto tão grande que até os núcleos paralelos, que é uma coisa que o João Emanuel não sabe fazer, tem algum mérito. Gostava demais da parte da Catarina e até desse triângulo Elias-Dedina-Damião eu gostava...
E eu amava a abertura e aquele tango, casavam entre eles e com o resto da novela como poucas vezes eu vi.
No mais, é isso. Abraços!!
Olá,Sérgio...sim,um belo enredo,com grandes viradas, ousadias e suspenses, aliado às belas interpretações , principalmente do núcleo principal - tendo em vista,como bem destacou, alguns núcleos paralelos que nada acrescentou- não poderia tão logo sair de nossa lembrança. Belo finde,abraços!
ResponderExcluirBoa noite Sérgio,
ResponderExcluirGostei de 'A favorita'.
Teve momentos surpreendentes e
atuações inesquecíveis.
As novelas mais antigas (como esta),
me agradavam mais.
Beijos!
Tu é fera Sérgio, sou seu fã.
ResponderExcluirÉ sem dúvida a melhor novela do João Emanuel Carneiro, ainda me lembro das dúvidas que causou, sobre quem era a verdadeira vilã. Aqui em Portugal a novela teve um sucesso relativo, mas era muito elogiada pela crítica. A Patrícia Pillar arrasou e era a alma da novela, mas a Cláudia Raia também, a Donatela é uma das melhores interpretações da actriz no drama. Sobre os núcleos paralelos, alguns foram tão mal aproveitados que nem lembrava-me que a Ângela Vieira ou a Rosi Campos entravam nesta novela. Concordo quase a 100% com o texto, só não considero a A Regra do Jogo o pior trabalho do autor, de certa forma também é uma novela ousada e muitas vezes incompreendida. Mais um excelente texto, parabéns :)
ResponderExcluirBitaites de um Madeirense
Olá Sérgio,
ResponderExcluirAchei sensacional essa novela porque demorou muito tempo pra gente descobrir quem era mocinha e quem era vilã.
Big Beijos,
Lulu
BLOG | YOU TUBE
Obrigado, anonimo.
ResponderExcluirFoi uma novela maravilhosa, Gustavo. No todo eu prefiro Av Brasil, mas só na principal eu sou A Favorita.
ResponderExcluirBjs, Chica.
ResponderExcluirInteressante, anonimo.
ResponderExcluirFoi uma abertura primorosa, anonimo.
ResponderExcluirTb adorei todas essas novelas citadas por vc, Izabel. bjs
ResponderExcluirAinda não, Bell.
ResponderExcluirPuxa, Jan, que bom que está tudo bem agora. bj
ResponderExcluirMt obrigado, alegriadeviver.
ResponderExcluirFoi mt bom, Ju.
ResponderExcluirGermana, concordo. A Cura foi primorosa e até hoje não entendo não ter tido segunda temporada. A melhor série que a Globo já fez. E A Favorita foi um novelão.Eu fiquei surpreso na época qd Flora se revelou. bjsss
ResponderExcluirExato, Felis. abçs
ResponderExcluirEntendo, Clau. bjs
ResponderExcluirMt obrigado, Kaio!
ResponderExcluirMt obrigado, Paulo. Bom te ver aqui novamente. Como vai Portugal? abração!
ResponderExcluirSensacional msm, Lulu.bj
ResponderExcluirE vale mencionar o final da novela, porque honestamente é muito difícil um autor que consiga unir num mesmo ponto o início e o final de sua trama, e JEC faz isso magistralmente no fim de A Favorita, quando Donatela se lembra da primeira vez que elas cantaram juntas, e Flora diz a ela "você é minha favorita", frase que foi evidenciada pela obsessão e psicopatia da vilã, fascinada com sua rival e com o sucesso que ela fazia. Tudo isso é dito pela própria Donatela no capítulo da revelação, quando ela diz que Flora sempre viveu à sombra dela e as custas do talento dela. Enfim, basicamente JEC se tornou o unico autor que eu faço questão de parar pra ver depois de A Favorita, a novela mais genial em termos de trama que já foi exibida.
ResponderExcluirExcelente observação, anonimo. Concordo com vc. O final foi também de uma genialidade ímpar. abçs
ResponderExcluirOlá Sérgio, excelente texto.
ResponderExcluirA favorita foi pra uma das melhores novelas da década passada.
Porem um núcleo que eu não gostava era o do Augusto César, achava bem chatinho
Abcs
Obrigado, Alan. Esse núcleo era chato mesmo. O da cidade do prefeito corno também. abçs
ResponderExcluir