segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Entre honrosos vencedores, "APCA" reconhece o êxito de "Justiça"

Os vencedores da "APCA" (Associação Paulista de Críticos de Artes) foram anunciados na noite da última quarta-feira (30/11), na Sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Como sempre ocorre em todos os anos, foram vários segmentos, incluindo teatro, Literatura, Dança,Artes Visuais, Moda, Rádio, cinema e televisão. Foram sete categorias para eleger os melhores da TV e a justiça mais uma vez prevaleceu, pois os vitoriosos fizeram jus aos troféus através de grandes trabalhos ao longo de 2016, ainda que muitos dos derrotados também merecessem.


"Justiça" ganhou como Melhor Série/Minissérie e a vencedora não poderia ser outra. O enredo ousado de Manuela Dias, que interligava quatro histórias independentes ao longo de quatro capítulos por semana, foi primoroso e arrebatou o público. O sucesso foi merecido e o trabalho do elenco merece inúmeros aplausos, sendo necessário destacar Adriana Esteves, Jesuíta Barbosa, Débora Bloch, Antônio Calloni, Leandra Leal, Marjorie Estiano, Enrique Diaz, Drica Moraes, entre outros. Das concorrentes, só uma também fez jus ao troféu: "Ligações Perigosas", da mesma Manuela Dias, exibida em janeiro. Já "Supermax", "A Garota da Moto" e "Me Chama de Bruna" (da Fox), embora boas, não chegaram a merecer premiações.

Ainda em cima da excelente minissérie vencedora, José Luiz Villamarim ganhou como Melhor Diretor e com total mérito. Seu trabalho em "Justiça" confirmou mais uma vez a sua extrema competência, já vista em obras excepcionais como "O Canto da Sereia", "Amores Roubados" e "O Rebu".
A direção foi fundamental para o êxito da produção, uma vez que várias cenas eram repetidas aso longo da semana, mas vistas de diferentes ângulos, dando um charme a mais para o formato. O protagonista de segunda virava coadjuvante na terça e figurante na quinta, por exemplo ---- muitas vezes protagonizando a mesma situação sob uma diferente ótica. Se o diretor se atrapalhasse, a ruína da minissérie era certa, o que obviamente não ocorreu. Ele concorreu com Luiz Fernando Carvalho ("Velho Chico"), Breno Silveira ("Um Contra Todos"), Vinícius Coimbra ("Liberdade, Liberdade") e José Alvarenga Jr. ("Supermax"). A vitória da direção e da autora foi um merecido reconhecimento do sucesso da minissérie.

A grande Selma Egrei ganhou como Melhor Atriz e é sempre prazeroso ver uma profissional de tanto talento sendo reconhecida. Ela viveu seu melhor momento na televisão em "Velho Chico", fazendo da amargurada Encarnação um dos trunfos da novela de Benedito Ruy Barbosa e Bruno Lupei. A personagem foi uma das poucas que participaram das duas fases do folhetim, chegando aos 100 anos. Houve ainda um minucioso trabalho de caracterização da equipe da trama, responsável pelas várias rugas e pele encardida da matriarca dos Sá Ribeiro, imprimindo extrema verossimilhança ao papel. Afinal, deixar crível uma mulher como a Selma ser mãe de Antônio Fagundes (os dois têm apenas um mês de diferença de idade) não era tarefa fácil. Mas conseguiram. E a intérprete deu um show em cena. Ela concorreu com as também merecedores Adriana Esteves ("Justiça"), Fabíula Nascimento ("Velho Chico"), Débora Bloch ("Justiça") e Lucy Alves ("Velho Chico").

Marco Ricca foi o vitorioso na categoria Melhor Ator. Uma premiação que honrou a sua brilhante composição do bandido mais carismático de "Liberdade, Liberdade". Mão de Luva era um dos destaques da novela das onze de Mário Teixeira (com argumento de Márcia Prattes) e fez tanto sucesso que até um Spin-off na Globo Play ganhou com o título de "A Lenda de Mão de Luva". O ator imprimiu um tom farsesco para o personagem, abusando de um proposital sotaque mineiro exagerado, fazendo do inicialmente cruel fora da lei o melhor tipo cômico do folhetim das 23h. Ele viveu o seu momento de maior destaque na televisão, após muitos papéis aquém do seu talento. Todos os elogios foram merecidos e as suas cenas com Andreia Horta, Maitê Proença, Dalton Vigh, Lília Cabral, Zezé Polessa, entre outros ótimos colegas, eram boas demais, mesclando humor e drama muito bem. Seus concorrentes foram os igualmente talentosos Rodrigo Santoro ("Velho Chico"), Sérgio Guizé ("Êta Mundo Bom"), Enrique Diaz ("Justiça") e Chico Diaz ("Velho Chico").

Já a categoria mais controversa foi Melhor Novela, cuja vitória foi de "Velho Chico". A trama teve uma estética diferenciada graças ao sempre cuidadoso Luiz Fernando Carvalho e as interpretações do elenco foram primorosas. Entretanto, o folhetim no todo deixou a desejar, principalmente na segunda fase, onde os problemas foram evidentes, incluindo o desenvolvimento do roteiro, os equívocos no ritmo arrastado da trama, o encaminhamento errôneo do Coronel Afrânio, entre outras questões. Comparada a "Totalmente Demais", "Êta Mundo Bom" e "Liberdade,  Liberdade" (suas concorrentes, além de "Escrava Mãe"), por exemplo, foi inferior. Mas, apesar dos defeitos perceptíveis, foi uma produção que primou pela emoção e poesia em vários momentos ---- principalmente na reta final, em virtude da comoção pela morte de Domingos Montagner e das belas cenas escritas por Benedito e Bruno ----, o que explica a vitória, embora possa ser contestada.

Aliás, a premiação ainda fez uma justa homenagem a Domingos, que ganhou o Grande Prêmio da Crítica (in memoriam). E é preciso enfatizar que esse troféu não foi porque o ator faleceu. É apenas um reconhecimento ao seu irretocável trabalho na pele do Santo, em "Velho Chico". O ator sempre foi um dos melhores da sua geração (senão o melhor) e logo se firmou na televisão, mesmo tendo ingressado tarde no veículo (já maduro, após uma longa trajetória circense). O personagem central da trama foi defendido com raro brilhantismo pelo intérprete, que estava nitidamente feliz. As cenas protagonizadas ao lado de Camila Pitanga, Antônio Fagundes, Lucy Alves, Zezita Matos, Gabriel Leone, Giullia Buscacio e Irandhir Santos eram todas dramáticas e primorosas. O ator foi muito exigido nessa novela, brilhando do início ao fim de sua participação, até perder a vida nas águas do rio São Francisco em uma cruel ironia do destino.

O "APCA" ---- que ainda premiou o canal Sportv como Melhor Cobertura dos Jogos Olímpicos e "D.P.A. - Detetives do Prédio Azul" como Melhor Programa Infantil ---- fez justiça nas categorias dos melhores da TV, principalmente com a minissérie de mesmo nome,  e resta torcer para que os próximos façam o mesmo.

18 comentários:

  1. Muito bom seu texto. Eu concordo principalmente com o prêmio pro José Luiz Villamarim.

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  2. Também não concordo com a vitória de Velho Chico, mas as outras foram merecedoras. Principalmente Justiça e seu magnífico diretor.

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  3. Concordo com todos as premiações e concordo com a vitória de Velho Chico como melhor novela porque, embora não tenha feito sucesso de audiência como as outras, ela primou pela emoção e por atuações maravilhosas do elenco, com uma direção competente na maior parte do tempo, trilha sonora excelente e uma boa reta final. Eta Mundo bom, Totalmente Demais e Liberdade Liberdade foram boas novelas, muito boas, mas não considero superiores a Velho chico se for levar em consideração o todo.

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  4. Muito bom o texto e endosso todas as suas bem embasadas opiniões.

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  5. Vencedores justos: Marco Ricca, Selma Egrei, Justiça, José Villamarim e Domingos Montagner. Injusto: Velho Chico e não Totalmente Demais.

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  6. Olá, Sérgio...em relação aos vencedores da TV,não tenho como não endossar a sua perfeita análise ,inclusive, em relação ao merecimento ou não,deste ou daquele.E concordo plenamente com o premio à D.Montagner, não porque o ator faleceu e sim, pelo irretocável trabalho na pele do Santo. Por outro lado, sou muito "fão" do Claudio Zaidan que ganhou como Colunista, Rádio e por isso ,estava acompanhando a Premiação deste ano.
    Bela semana,belos dias,abraços!

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  7. Difícil escolher pq tem divergências de opiniões né? O que é bom pra um nem sempre é pra outro.


    bjokas =)

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  8. Parabéns pelo ótimo comentário, Sérgio. Concordo com a premiação da APCA.

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  9. Concordo com quase todas as vitórias, menos no quesito melhor novela.
    Velho Chico teve produção e elenco excelentes? Sim, mas novela é feita de história, coisa que essa trama não teve e ainda por cima foi beeeem arrastada e chata.
    Totalmente Demais e Liberdade Liberdade eram mais merecedoras pelo conjunto todo.
    Sem contar a falta de indicações do Fenomeno das Sete, uma injustiça.

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  10. Que bacana esse seu adendo, Felis! Abração!

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