"Velho Chico" está em sua última semana e a novela de Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi foi bastante problemática. Entretanto, o folhetim vem apresentando uma reta final repleta de cenas emocionantes, algumas em função da trágica morte de Domingos Montagner, lamentavelmente. Os capítulos que começaram a ir ao ar sem a presença do querido ator são justamente os que marcam os vários fechamentos de ciclos do enredo. E todo o elenco tem protagonizado momentos belíssimos.
A estratégia de Luiz Fernando Carvalho para driblar a ausência do saudoso ator nas cenas finais foi arriscada, mas funcionou plenamente e ainda serviu para homenagear Domingos. Ao transformar uma câmera subjetiva na figura do Santo, o diretor fez com que a visão do personagem se fundisse com a do público. O que a lente (operada com maestria por Leandro Pagliaro) mostrava era exatamente o que o patriarca da família Dos Anjos via. E todos os atores passaram a olhar para a câmera, contracenando com um objeto inanimado que representava toda a força cênica daquele intérprete tão talentoso.
As cenas ficaram com uma sensibilidade rara, expondo o talento do elenco e a força que todos precisaram ter durante aqueles instantes, onde a dor da ausência ficava ainda mais cruel. A preparação do casamento de Olívia (Giullia Buscacio) e Miguel (Gabriel Leone), iniciada logo depois da notícia da gravidez da menina, foi repleta de delicadeza, fazendo dos olhares os verdadeiros protagonistas.
Não ter se emocionado vendo todos olhando para a câmera com os olhos marejados, enquanto conversavam com Santo, foi impossível. A emoção dos personagens era de alegria, mas a dos atores de tristeza.
Camila Pitanga, Lucy Alves e Zezita Matos não conseguiram disfarçar a dor na hora em que a família fazia um brinde ao novo herdeiro que está chegando. Os sorrisos e os olhares se contradiziam, mas a cena ficou linda e a situação de plena harmonia e serenidade daquelas pessoas acabou representando uma bonita homenagem ao ator. Já Irandhir Santos deu um banho de interpretação quando Bento chamou seu irmão para se aprontar, pois Olívia estava lhe esperando já vestida de noiva. O texto delicado de Benedito e Bruno ---- mandando também mensagens subliminares, como "estou aqui porque quero, não porque preciso" ---- complementou o momento com perfeição.
E Giullia Buscacio brilhou no instante da 'chegada' de seu painho, declarando seu amor e fazendo questão de dizer que ele estaria sempre com ela. A inserção da voz de Domingos, inclusive, merece ser mencionada, pois conseguiram pegar pequenas frases ditas por Santo em outras cenas para uma espécie de complemento nesses momentos de ausência ---- poderia até ficar fúnebre demais; porém, funcionou, aumentando a dose de emoção das cenas. A sequência da entrada do pai da noiva na hora da cerimônia, sendo observada por Tereza e Miguel logo à frente, também precisa ser aplaudida pela tamanha sensibilidade. O texto proferido pelo grande Carlos Vereza, intérprete do padre Benício, foi outro ponto a favor ---- "Aqueles que não puderam estar de corpo presente tenho certeza que estão presentes de alma e de coração".
Mas não foram só as cenas que contaram com a 'ausência presente' de Santo que proporcionaram emoção para o telespectador. Antônio Fagundes é outro grande nome da reta final da novela. Após um início completamente equivocado na segunda fase da produção (um resultado conjunto do erro de composição do ator, da direção e do desenvolvimento dos autores), o intérprete achou o tom do seu Afrânio e nas últimas semanas o personagem até chegou a lembrar a época de quando era interpretado por Rodrigo Santoro. Fagundes chegou a protagonizar uma das melhores cenas do folhetim ao lado de Domingos Montagner, quando o coronel e Santo finalmente se entendem, e deu um show sozinho no capítulo desta terça.
A sequência em que Afrânio procura Martim (Lee Taylor) desesperadamente e mergulha no Rio São Francisco, perdendo a sua peruca e expondo pela primeira vez o seu verdadeiro visual, foi de uma poesia ímpar. Já o momento posterior, onde o Saruê vaga pelo deserto segurando uma espécie de cajado --- e meio sem rumo em busca de algo que ele nem mesmo sabia ---, representou uma alusão a Moisés, da Bíblia. E o instante de maior destaque do ator foi o devaneio do coronel, que começou a ver a sua versão caricata (com terno colorido e peruca) debochando dele, iniciando uma briga com seu outro eu. A situação remeteu ao clássico Dom Quixote de La Mancha, que enfrentou Moinhos de Vento achando que eram gigantes. A referência foi clara e genial. Antônio Fagundes esteve em estado de graça.
"Velho Chico" está chegando ao fim e a novela teve muitos equívocos. Entretanto, a reta final tem presenteado o telespectador com cenas emocionantes e impecavelmente dirigidas. O elenco, aliás, sempre foi um dos pontos fortes da trama e vem se destacando ainda mais nesses últimos capítulos do folhetim das nove.
Nossa, eu chorei tanto vendo isso! Tá muito triste.
ResponderExcluirInfelizmente as cenas só ficaram assim pq o Domingos se foi. Tanto que depois que ele morreu todo mundo tá elogiando a novela agora. Mas não te culpo porque até eu que odiei a novela estou elogiando. O nosso sentimento acaba prevalecendo, não tem como.
ResponderExcluirEssa reta final tá sendo triste e emocionante, mas como você disse isso não apaga os erros da novela, faltou mais dinamismo, o elenco é bom, a fotografia é perfeita, porém a novela foi na maior parte do tempo lenta e melancólica, típico das novelas do Benedito.
ResponderExcluirA sequência do Fagundes sem peruca foi extraordinária!
ResponderExcluirAchei essa novela chata durante a maior parte do tempo mas ando vendo algumas cenas dessa reta final e ela tem me atraído bastante, e não só pelas homenagens que fizeram ao Domingos. A morte da Encarnação, a busca do Afrânio pelo Martim e essa cena dele perdido no deserto lutando contra si mesmo foram momentos que eu achei maravilhosos, e as cenas transmitem poesia. Nunca tinha visto uma novela do Benedito tão poética assim. O texto dele tá maravilhoso.
ResponderExcluirTenho me emocionado com os diálogos e cenas finais...Muito bom! abração,chica
ResponderExcluirÓtima análise, acho que o que mais sobressaiu na novela foi a força do elenco, que pôde mostrar todos os seus viés inclusive os novatos, seguraram bem, sao atuações espetaculares.
ResponderExcluirDurante novela em si, acho que faltou mais dinamismo!
Eu assisti a fase de Santerê jovens ( Com o Goes e Dalavia) e tinha gostado muito, porem com o início da nova fase fui perdendo o interesse e só assistia quando sabia que teria algo relevante(Quando Miguel descobre ser filho de Santo, qquando desaparecimento de Santo..)
Enfim cabe ainda elogiar a fotografia, a trilha e a história, poesia pura do meu nordeste!
Chorei mais ainda lendo essas palavras Sérgio. Você consegue passar todo seu sentimento assim, e emociona muito, porque é exatamente dessa forma que tenho me sentido...
ResponderExcluirEssa novela foi muito depressiva durante toda a sua exibição. A tragédia com Domingos e a morte de Umberto Magnani só provaram que o clima fúnebre migrou pra vida real. As cenas tão bonitas mesmo nessa reta final,mas foi uma novela que até fez mal a quem assiste.
ResponderExcluirVelho Chico é uma obra-prima, com interpretações magistrais, trilha sonora perfeita e um texto impecável. Bruno Luperi coloca muitos autores veteranos no bolso, esse tem o DNA do avô, que também é excelente. Claro que a trama teve seus defeitos, ver o Antônio Fagundes ser criticado foi uma novidade pra mim, mas agora ele lavou a alma com esse duelo de Afrânio vs. Saruê. Mas você vai falar algo sobre O Homem Errado? Até hoje não me conformo com o cancelamento da trama, seria o último trabalho de Duca Rachid e Thelma Guedes juntas e a tendência é que elas não façam mais novelas juntas.
ResponderExcluirOi meu querido.
ResponderExcluirComo disse em outro comentário tenho assistido a Velho Chico em consideração ao esforço que todos os atores estão tendo de continuar esse trabalho. Porque não dá. O que dá é um nó na garganta cada vez que percebemos a câmera e ouvimos a voz do Domingos. Sinceramente, a minha ficha ainda não caiu e não vai cair tão cedo porque até hoje eu não superei a "viagem" do Wilker, imagina a dele...
Olá Serginho querido, essa não foi umas
ResponderExcluirdas minhas novelas preferidas, não gostei
muito, sempre achei um povo esquisitos e
com roupas sei la esquisitas tbém......o final
até que concordei, foi emocionante, mas não
vai ficar na minha lembrança essa novela, a não
ser a parte final pela morte desse ator que sempre
adorei..
Abraços com meu carinho
Rita
Bom domingo!
Mt triste, Sol.
ResponderExcluirHector, sem dúvida os elogios aumentaram pela comoção da morte dele. Fato. Mas as cenas ficaram lindas.
ResponderExcluirExatamente, Daiane. Não podemos nos cegar. A reta final foi linda, mas a novela no geral foi apenas mediana. Teve mts problemas e visíveis.
ResponderExcluirFoi sim, anonimo.
ResponderExcluirMeu Pedacinho de Chão foi bem mais poética, Ed. Mas é verdade, a novela foi mt chata no geral msm e só na reta final engrenou.
ResponderExcluirBom msm, Chica. bj
ResponderExcluirDaiana, mt obrigado. Fico feliz que tenha gostado. E eu endosso integralmente o seu ótimo comentário. bjs
ResponderExcluirNossa, Nellie, mt obrigado. Fiquei honrado com esse seu elogio. Beijão!
ResponderExcluirTeve um clima sombrio msm, Olivia. Inegável.
ResponderExcluirFalar o quê, Jeanny? Nunca foi divulgado nada sobre essa sinopse. Ninguém tinha ideia do que se tratava. Não tenho como opinar. Porém, as autores não tem um saldo mt maravilhoso até agora. O Profeta e Cama de Gato foram mt boas, Cordel Encantado primorosa até a metade (depois andou em círculos) e Joia Rara mt equivocada. Se a trama for msm boa, espero que a coloquem na faixa das 23h. Agora se for ruim, que criem outra msm.
ResponderExcluirÉ tudo mt triste mesmo, Pâmela...
ResponderExcluirEu tb não fui fã dessa novela, não, Rita. Pelo contrário, até... bjs
ResponderExcluirConcordo que as últimas cenas foram poéticas. Achei criativo o recurso do uso da câmera para simbolizar o personagem Santo. Era visível a emoção do elenco. A cena final, com Domingos Montagner navegando no barco, me emocionou.
ResponderExcluirExatamente, Elvira. Souberam se sair bem.
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