A série de Miguel Falabella ---- escrita em parceria com Artur Xexéo, Antônia Pellegrino, Flávio Marinho, Alessandra Poggi e Luís Carlos Góes, dirigida por Cininha de Paula ---- estreou em janeiro de 2013. A produção provocou um estranhamento inicial pela quantidade de tipos caricatos e ausência de um enredo que despertasse atenção. No entanto, essa primeira impressão durou pouco. Com o tempo, foi ficando claro que o maior atrativo era justamente aquela turma nada normal, além do texto repleto de boas tiradas e muito humor negro.
A excêntrica família do subúrbio era composta por várias figuras tragicômicas e o pano de fundo da história não poderia ter sido mais apropriado: uma funerária, a "F.U.I" (Funerária Unidos do Irajá). Ruço (Miguel Falabella) herdou o negócio do pai e passou por muitos perrengues para se sustentar. Sua ex-esposa --- que na verdade sempre foi atual ---, Darlene (Marília Pêra), era a maquiadora dos defuntos, enquanto uma das melhores amigas da família (a esquizofrênica Luz Divina - Eliana Rocha) exercia a função de carpideira.
Os três sempre foram os grandes destaques da série. Os personagens eram os melhores e mais ricos, além de mais engraçados. Ruço vivia proferindo ensinamentos que achava ser de Shakespeare e costumava rir da própria desgraça. Darlene era uma alcoólatra que não largava o copo de gim e ainda vivia com seu cigarrinho na boca.
Já Luz Divina sempre se achou irresistível e fazia questão de contar várias situações absurdas que havia protagonizado ao longo de sua vida. Miguel Falabella, Marília Pêra e Eliana Rocha foram impecáveis do início ao fim.
Aliás, a produção foi a última que pôde contar com o imenso talento de Marília, que faleceu em dezembro de 2015. Mesmo muito debilitada, a atriz fez questão de gravar as duas últimas temporadas inteiras (na verdade foi apenas uma mais longa, dividida em duas) e seu grande amigo Miguel chegou a aumentar o destaque de Darlene, parecendo pressentir o que viria a acontecer. Todas as cenas protagonizadas pelos dois deram um triste tom de adeus. Esses momentos finais, inclusive, serviram para o público se despedir com carinho de uma das mais versáteis intérpretes do país.
Mas, além dos perfis e atores já mencionados, o seriado apresentou muitos outros bons tipos. A empregada Adenóide, por exemplo, era um show à parte. Interpretada pela ótima Sabrina Korgut, a personagem não tinha papas na língua e conseguia ser ainda mais pobre do que a família de Ruço. Suas misérias eram contadas em tom de deboche. Vale mencionar ainda o divertido Marcão (Maurício Xavier), mecânico que virava a exuberante Markassa a qualquer hora do dia. Odete Roitman (Luma Costa), Alessanderson (Daniel Torres), Tamanco (Mart`nália) e Juscelino (Alexandre Zacchia) também merecem destaque, assim como as gêmeas (uma branca e outra negra) Soninja (Karin Hills) e Giussandra (Karina Marthin).
Uma personagem que só gritava "Piranha", entre outras palavras não muito amigáveis, era a Bá (Niana Machado) e conseguiu ter seu espaço na série, sendo uma das figuras mais carismáticas. Ela era a antiga babá de Ruço e foi mantida na casa da família quase como uma peça decorativa. Tudo a ver com o clima da atração. Entre outros tipos que engrandeceram a série através das suas excentricidades foram Dircéia (Helady Araújo) --- que vivia chamando Ruço de "viado" ---, Dr. Zoltan (Diogo Vilela), Abigail (Lorena Comparato), Floriano (Rubens de Araújo) e Deputado Sebonetti (Marcelo Picchi).
O sarcasmo da história estava na fala de cada personagem e o texto era um dos pontos altos. Repleta de tiradas trágicas, cômicas e politicamente incorretas, a série retratava um deboche contínuo. Uma ironia em cima das dificuldades da vida, da hipocrisia do ser humano, do riso em cima da desgraça, da contradição de cada pessoa, enfim. E faziam isso com maestria. Mas não era só. O enredo também apresentava uma dose de melancolia em todo fim de episódio, principalmente através de Ruço e Darlene. O casal deixava de lado as piadas e conversava seriamente, em tom muitas vezes bastante triste, sobre a vida deles e de todos. Momentos que emocionavam sempre.
O último episódio foi focado no aniversário de Ruço, que precisou lidar com a ausência de vários queridos amigos que seguiram seus respectivos caminhos (vide Markassa, Giussandra e Soninja, entre outros). As cenas finais ---- embaladas ao som de "Goodbye" (Air Supply) ---- foram repletas de nostalgia, uma vez que o protagonista voltou no tempo quando começou a ver um compilado de imagens naqueles antigos 'binóculos de fotos', que ganhou de presente da Darlene. Algumas ótimas sequências de todas as temporadas foram relembradas, inclusive o episódio musical especial exibido em 2014. Quando acaba de 'viajar no tempo', Ruço se depara em um estúdio de gravação e vai embora, meio desnorteado. Logo depois, surge uma produtora que escreve em um mural "Gravado. Fui!", encerrando a trajetória da série através de uma ótima metalinguagem. A frase final "O resto é silêncio" (William Shakespeare) foi uma homenagem a Marília Pêra e a subida dos créditos, sem qualquer som, arrepiou.
"Pé na Cova" teve cinco temporadas e saiu do ar com dignidade ---- até porque não haveria como continuar sem Marília. A série de Miguel Falabella ---- cuja trilha sonora, repleta de clássicos internacionais, era um show à parte --- conseguiu fazer rir e chorar através de uma gama de personagens tragicômicos, onde a alegria de viver se sobressaía, apesar dos inúmeros problemas que faziam questão de aparecer a todo instante. O humor negro e a melancolia foram mesclados com eficiência. Deixará saudade.
Confesso que não gostava muito, mas valeu pela Marília.
ResponderExcluirPra mim já foi tarde, mas lamento pelo adeus da Marília na telinha!
ResponderExcluirFoi lindo o final. Me emocionei!
ResponderExcluirA primeira temporada foi ótima, mas depois ficou muito chato. Só que concordo que o último episódio foi lindo e arrepiante. Triste ver os créditos subindo sem som.Um lamentável adeus a Marília Pêra.
ResponderExcluirFoi uma série mediana, mas o texto era um acerto.E Marília será eterna.
ResponderExcluirSérgio,o SBT está preparando uma novidade em sua programação noturna.à partir de Junho,será exibida,com 26 episódios,a série´´A Garota da Moto´´,produzida em parceria com a Mixer e a Fox.escrita por Tiago Santiago,a série terá Christiana Ubach como protagonista.ela será uma motoqueira q arriscará sua vida para ajudar seu pai e seu filho pequeno.
ResponderExcluirSérgio, desde que o Pé na Cova entrou no ar, com aquela abertura de caveirinhas dançantes, me apaixonei...rsrs
ResponderExcluirGosto do diferente e inusitado e nisso a sério foi fantástica!
Destaco também, além da brilhante interpretação dos atores que mencionou, a trilha sonora que era constituída de canções antigas que emocionavam demais...
Fiquei desolada com a morte da Marília Pera, pois ela era intensa, querida e forte e jamais haverá alguém como ela! :(
Enfim, um belo trabalho para ficar na história da tv!
E você sempre trazendo pra gente tudo de melhor e mais completo Sérgio, obrigada!
Maravilhoso fim de semana querido amigo!
Sérgio, não era fã do programa, apesar de minha admiração por alguns atores que dele faziam parte. Com o falecimento da grande Marília Pera e sabendo que havia episódios gravados, quis vê-los. Terminou de forma grandiosa e emocionante. Bjs.
ResponderExcluirEntendo, Valentina!
ResponderExcluirSem problema, anonimo.
ResponderExcluirIdem, Daniela.
ResponderExcluirConcordo que deu uma decaída, sim, Thamires. Teve altos e baixos. bj
ResponderExcluirSerá mesmo, Heitor.
ResponderExcluirEu já havia lido sobre isso, Matheus. Aguardemos.
ResponderExcluirEu que agradeço, Adriana. Comentário excelente e eu tb mencionei a trilha no texto. Foi primorosa mesmo, repleta de clássicos. bjs e obrigado pelo carinho.
ResponderExcluirEntendo, Marilene. Bjão
ResponderExcluirPor incrível que pareça meus personagens preferidos foram a saudosa Darlene e a Bá... achei interessante Miguel trazer para a série atores novos e mesmo muito simples pessoalmente. Abraços!
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ResponderExcluirOlá Sérgio,
Embora não seguisse à risca o "Pé na Cova", lamentei não ter assistido seu encerramento, embora ainda tenha oportunidade de assistir pela internet. É que a gente vai deixando para quando tiver um tempinho disponível e acaba não vendo.
Ficava tocada toda vez que via Marília Pêra em cena. Admirável mulher, além de incomparável artista.
Pelo visto, foi mesmo um encerramento regado a nostalgia. O programa não seria mesmo mais viável sem Marília Pêra.
Ótimas considerações.
Abraço.
Também eram meus preferidos, Bia. Mas acrescento a Luz Divina. bjsss
ResponderExcluirNão teria como a continuação, Vera. E o final foi emocionante. Se puder, tente ver a última cena. Só ela já vale. bjs
ResponderExcluirAssinei o Globo play e assisti durante três dias e três noites. Amei. Lindo, impecável, surpreendente.
ResponderExcluirMe perdi de amor, de sonho, do desejo de que não terminasse nunca a deliciosa dramaturgia chamada: "Pé na Cova".
"Pé na cova" foi maravilhoso, personagens interessantes, histórias em sua maioria cativantes, combinação de humor e emoção, que só gente simples consegue entender, parabéns aos envolvidos.
ResponderExcluirZamenza escreve muito bem
ExcluirAqui estou Zamenza, conheci teus textos no Twitter e agora que fui descobrir esse blog, estou reassistindo Pé na Cova e os melhores personagens são os 4 principais:
ResponderExcluirRuço, Darlene, Juscelino e a Luz Divina.