sábado, 5 de dezembro de 2015

O adeus a Marília Pêra, uma das mais respeitadas atrizes brasileiras

Na manhã deste sábado, dia 5 de setembro, o Brasil perdeu uma das mais respeitadas atrizes brasileiras. Marília Pêra deixou o país de luto, pouco tempo depois da grande perda de Yoná Magalhães, outro ícone da dramaturgia nacional. A atriz lutava contra um câncer no pulmão havia dois anos e o fato só tomou conhecimento do público recentemente, quando o seu estado de saúde já estava muito grave. Ela não gostava de falar da doença e preferia dizer que estava 'apenas' sofrendo de fortes dores na bacia, outro problema que a deixou fragilizada, a afastando, inclusive, do trabalho na época.


Marília faleceu em casa, aos 72 anos, ao lado da família, por volta das seis da manhã. Deixa os filhos Ricardo Graça Mello, Esperança Motta e Nina Morena, além do marido Bruno Faria, e da irmã, a querida Sandra Pêra. Foram 55 anos dedicados à arte e ela era múltipla, competente em tudo o que fazia. Atriz, cantora, diretora, coreógrafa, produtora e bailarina, a mulher que conquistou o país com seu talento tem uma carreira repleta de trabalhos grandiosos e personagens memoráveis. Sua morte afeta a vida de todos os brasileiros, que ficaram sem uma das mais dedicadas profissionais do teatro e da televisão.

Com mais de 30 trabalhos na televisão, quase 60 peças teatrais e 27 filmes, Marília tem um currículo invejável e admirado por todos os seus colegas. Estreou na TV em 1965, na recém-inaugurada Rede Globo, onde atuou nas primeiras novelas da emissora: "A Moreninha", "Padre Tião" e "Rosinha do Sobrado".
Foi para a Tupi em 1968 e participou de uma das obras mais lembradas até hoje, o folhetim revolucionário "Beto Rockfeller". Retornou à Globo em 1971 e, como ocorreu anteriormente, esteve em três novelas seguidas: "O Cafona", "Bandeira 2" e "Uma Rosa com Amor" (1972).

Ganhou até um programa musical em 1973 ("Viva Marília") e esteve na novela "Supermanoela", em 1974. Mas, estressada e cansada com o ritmo frenético da televisão, se afastou por treze anos da telinha, deixando o público saudoso. Após esse longo período de recesso, a atriz voltou na minissérie "Quem ama não mata" (1982) ---- produção que teve um remake neste ano, com o título de "Felizes para sempre?". E cinco anos depois, ela simplesmente viveu um de seus mais importantes momentos na carreira na até hoje lembrada "Brega & Chique", novela de sucesso de Cassiano Gabus Mendes. Na trama, Marília interpretou a exagerada socialite Rafaela Alvaray, que se via falida após a falsa morte de seu marido, precisando se adaptar ao mundo da classe média baixa. Foram muitas cenas ótimas ao lado de Raul Cortez, Jorge Dória, Marco Nanini e Glória Menezes, só para citar alguns.

No ano seguinte, em 1988, outra emblemática personagem marcou a sua trajetória: a terrível Juliana, de "O Primo Basílio". A conhecida figura da obra de Eça de Queiroz foi uma das vilãs mais marcantes da teledramaturgia e Marília deu um verdadeiro show na pele daquela diaba que transformou a vida da patroa Luísa (Giula Gam) em um verdadeiro inferno. Todas as sequências exigiram muito da intérprete e o momento em que a víbora morre evidenciou a capacidade da atriz, que impressionou com sua total entrega ---- aliás, a produção foi reprisada compactada nesta semana, no "Vídeo Show".

A atriz também esteve em "Top Model" (1989), "Lua Cheia de Amor" (1990) e em "Rainha da Sucata" (1990), onde viveu ela mesma. "Incidente em Antares" (1994), "O Campeão" (1996), "Mandacaru" (1997) e "Meu Bem Querer" (1998) foram outras produções que contaram com seu talento. Em "Os Maias" (2001), mais uma grande obra de Eça de Queiroz, Marília interpretou Maria Monforte, na primorosa minissérie de Maria Adelaide Amaral. Já em 2004, a intérprete esteve em uma produção fracassada de Antônio Calmon, a fraca "Começar de Novo". Mas, apesar da história cansativa e boba, ela novamente conseguiu mostrar seu talento como a hippie Janis, mais conhecida como a Vó Doidona ---- fazendo uma dupla ótima com Luis Gustavo.

E em 2006 a atriz foi presenteada por João Emanuel Carneiro com a impagável Milú, no sucesso "Cobras & Lagartos". A trambiqueira da novela das sete foi uma das melhores personagens da trama e Marília mostrou toda a sua veia cômica com maestria. Apesar de ser uma vilã, a perua falida caiu no gosto popular e protagonizou uma sucessão de cenas hilárias, repletas de sarcasmo. Foram muitos momentos ótimos ao lado da saudosa Mara Manzan, além de Mariana Ximenes, Carolina Dieckmann, Leonardo Miggiorin, Herson Capri, Francisco Cuoco, entre outros colegas talentosos.

No mesmo ano, ela ainda brilhou vivendo um perfil completamente distinto do folhetim das sete: a Sara Lemos Kubitschek, em "JK", outra primorosa minissérie de Maria Adelaide Amaral, escrita em parceria com Alcides Nogueira. A atriz viveu a esposa do famoso presidente na segunda fase ---- uma das primeiras-damas mais ativas do país ----, fazendo uma ótima parceria com o saudoso José Wilker, o protagonista da história. Em 2007, foi a vez dela brilhar em "Duas Caras", de Aguinaldo Silva, interpretando a elegante Gioconda Barreto. Marília fez ótimas cenas com Stênio Garcia (o poderoso Barretão) e, principalmente, com Guida Viana, que viveu a melhor amiga de sua personagem, a intrometida Lenir ---- a atriz até protagonizou um episódio polêmico em uma premiação, quando recusou o troféu de Melhor Atriz Coadjuvante, o 'cedendo' para Guida.

Em 2010, protagonizou a ótima série "A Vida Alheia" --- vivendo a poderosa Catarina Faissol --- e desde então estabeleceu a parceria com Miguel Falabella (autor do seriado) até o fim da vida. Ela esteve no ano seguinte na última novela do escritor, "Aquele Beijo", exibida na faixa das sete, onde interpretou a vilã Maruska. E seu terceiro trabalho com Miguel na televisão foi o seriado "Pé na Cova", que estreou a primeira temporada em 2013, cuja quarta está sendo exibida atualmente na Globo ---- a quinta, inclusive, já inteiramente gravada, irá ao ar em janeiro de 2016. Marília brilha em todas as sequências, que mesclam humor ferino e drama com competência, na pele da cativante Darlene, ex- mulher de Ruço (Falabella), que não larga seu cigarro e seu copo de gim. A última produção que pôde contar com o talento desta profissional de alto nível.

Marília Pêra era uma pessoa que honrava o ofício que exercia. E se destacava em qualquer situação. Era uma dançarina de mão cheia, uma produtora competente, uma cantora afinadíssima, uma atriz que fazia rir e chorar com a mesma maestria, enfim, era uma pessoa completa e que amava o teatro. Seu falecimento é uma grande e irreparável perda. Pelo menos todo o seu legado ficará, engrandecendo o mundo das artes e sendo motivo de orgulho para todos os brasileiros. Adeus, Marília!


23 comentários:

  1. Parece que perdi alguém da família. Depois da Yoná ainda...Muito triste!

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  2. Sabia que vc faria uma merecida homenagem pra ela e fez.Uma viagem no tempo nessa carreira de uma atriz completa.Eu amava essa mulher e estou de luto.Não tinha ideia desse câncer e foi um choque a notícia.Que ano horroroso é esse que estamos passando!

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  3. Parece que perdemos um ente querido,Sérgio,a Marília deixará muitas saudades.

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  4. Oi Sérgio,
    Grande perda mesmo, pois Marília Pêra,
    era uma artista completa...
    Ela escondeu a doença muito bem,
    pois só fiquei sabendo que
    ela tinha câncer ontem.
    Bonito post lembrando a trajetória dela!
    Bjs!

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  5. Algo a comentar...

    Como disse a diva Bibi Ferreira a Globo News, com a voz embarga pela emoção: "pela gravidade da doença, já sabíamos que ela iria partir, mas quando partisse..." (seguiu-se um silêncio triste).

    É assim que me sinto com a partida desta que foi a maior, melhor e mais completa atriz brasileira.

    Mas, como disse a grande Cássia Kiss "somos felizes porque tivemos Marília Pêra"

    Ou como disse a talentosa Irene Ravache "Marília é uma atriz que nós temos, e faço questão de falar no presente. Uma atriz incomparável"

    E concordo com o que disse a dama do teatro brasileiro, dona Fernanda Montenegro que Marília era a mais aparelhada da atrizes que já viu atuar.

    De fato, pois passeava pelo drama, pela comédia, pelo musical, pela farsa e pela revista com imensa maestria.

    Apesar do grande sucesso no cinema e na televisão, era nos palcos do teatro que Marília brilhava muito mais intensamente. Tive o privilégio de vê-la nos palcos e aplaudi-la de pé.

    Você tem razão Sérgio, ela deixou um legado e engrandeceu o mundo das artes. Um grande e imenso orgulho para os brasileiros.

    Aplausos e saudades Marília Pêra.

    Parabéns pelo post...

    abraços

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  6. Mais uma grande perda para o mundo. Muito triste.
    Big Beijos
    Lulu
    www.luluonthesky.com

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  7. Marília Pêra era uma artista completa. Acompanhei a carreira dela desde o início, em 1968, na novela Beto Rockefeller. Quantas atuações memoráveis ela nos deixou. Que a alma dela repouse em paz.

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  8. Sergio,

    Já deixa saudades, porque todos os papeis que atuou sempre foi brilhante.

    Bjs

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  9. Parabéns pela abordagem, Sergio! Ela merece muitas e muitas homenagens, pela grandeza do seu talento. Lamentei muito ter que dar esse adeus. Bjs.

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  10. Olá Sérgio,

    Sabia que você postaria a respeito, homenageando esta grande, completa e admirável atriz. Cheguei até a conferir no meu blogroll no domingo à tarde, mas não tive condições de chegar até aqui.
    Parabéns pela linda e merecida homenagem!
    Perdemos muito com a partida de Marília Pêra, mas fica o seu legado.
    Que descanse em paz!

    Grande abraço.

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  11. De todos os artistas que perdemos esse ano, a partida da Marília foi a que me deixou mais triste. Quando recebi a notícia fiquei em choque. Parecia até que era um parente... Ainda na terça eu a vi no Pé na Cova e teve uma cena muito tocante onde ela conversava com o Ruço. Apesar de não conhecer os trabalhos mais antigos dela, jamais me esquecerei dos recentes, principalmente da Milú, que com certeza foi um dos melhores papéis dela. Era realmente uma artista excelente. Que descanse em paz.
    Abraços

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  12. Eu só fiquei sabendo na semana retrasada, quando a imprensa divulgou, Clau. bjs

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  13. Assino duas vezes embaixo do seu comentário, F Silva!

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  14. Merece muito, Marilene. E todos lamentamos mt. bj

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  15. Não tinha como não homenageá-la, Vera. Ela merece isso e muito mais. Saudade grande. bjs

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  16. Tb fiquei mt triste, Ed. Que falta ela fará. Aliás, já está fazendo. abçs

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  17. Leia mais sobre a história de Marília Pêra...

    Cinema

    Com mais de 60 anos de carreira e mais de 60 personagens, Marília Pêra não poderia ter deixado de brilhar também nas telonas. No cinema, estrelou filmes como “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco; “Bar Esperança” (1983), de Hugo Carvana, “Anjos da Noite” (1986), de Wilson Barros, “Dias Melhores Virão” (1988) e “Tieta do Agreste” (1995), ambos de Cacá Diegues; “Central do Brasil” (1996), de Walter Salles; e “O Viajante” (1998), de Paulo César Saraceni.

    Teatro

    Marília desempenhou nos palcos papeis marcantes e recebeu importantes prêmios no teatro. Com “Fala Baixo, Senão eu Grito”, primeira peça teatral da dramaturgia paulista, de Leilah Assumpção, encenada em 1969, recebeu vários títulos de melhor atriz. Por suas interpretações, ganhou duas vezes o Prêmio Moliére, sendo a primeira em 1974, em “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde, e a segunda dez anos depois, por “Brincando em Cima Daquilo”, de Dario Fo. Ainda recebeu o Prêmio Mambembe por “O Exercício”, de John Lewis Carlino, e se destacou na direção de Marco Nanini e Ney Latorraca na peça “Irmã Vap”, de Charles Ludlan, em 1986.

    Depois de “O Teu Cabelo Não Nega”, voltou a interpretar Carmen Miranda no espetáculo “A Pequena Notável” (1966); em “A Tribute to Carmen Miranda”, no Lincoln Center, em Nova Iorque (1975), dirigido pelo também ex-marido, Nelson Motta; me “A Pêra da Carmen”, em 1986 e 1995; e no musical dirigido por Maurício Sherman, “Marília Pêra Canta Carmen Miranda” (2005).

    Uma das atrizes que mais atuou sozinha nos palcos, Marília interpretou muitas mulheres célebres, como a cantora Dalva de Oliveira, em “A Estrela Dalva”, em 1987; Maria Callas na peça “Master Class”, em 1996; e a estilista Coco Chanel, na peça “Mademoiselle Chanel”, em 2004; além da ex-primeira dama do Brasil, Sarah Kubitschek, na minissérie ‘JK’, em 2006, de Maria Adelaide Amaral.

    Música

    Dama do teatro e da TV, Marília também era uma apaixonada pela música. Em 1964, ela chegou a derrotar Elis Regina, ambas desconhecidas até então, num teste para o musical “Como Vencer na Vida Sem Fazer Força”, de Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert, que, na época, foi traduzido por Carlos Lacerda.

    Já em 1975, Marília protagonizou o espetáculo “Feiticeira”, show concebido por Nelson Motta, com roteiro assinado em parceria com Fauzi Arap, que virou LP lançado pela gravadora Som Livre. Mais tarde, por iniciativa do DJ Zé Pedro, o álbum ganhou versão em CD pelo selo Joia Moderna.

    Atualmente, estava envolvida no projeto de um novo CD, pela Biscoito Fino, com repertório de canções de Tom Jobim, Johnny Alf, Dolores Duran e de Kurt Weill."

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