"Animal" ousou e cumpriu seu objetivo

Foram praticamente três meses no ar. O GNT estreou "Animal" no dia 6 de agosto e a série chegou ao fim nesta quarta-feira (29/10), cumprindo o objetivo de apresentar para o telespectador uma história que fugia do comum, repleta de enigmas que foram sendo desenvolvidos ao longo dos episódios. O projeto foi uma inédita parceria do canal a cabo com a Globo, que cedeu os direitos da produção por não ter tido um espaço para colocá-la em sua grade este ano.

A história de João Paulo Gil, biólogo que sofre de teriantropia e busca incessantemente uma cura para sua doença ---- espécie de esquizofrenia onde o enfermo apresenta surtos, se comportando feito um animal, no caso um puma ----- foi desenvolvida de forma interessante e conseguiu despertar a atenção. Além da saga do protagonista, a série apresentou várias outras subtramas envolvendo os misteriosos e enigmáticos personagens da fictícia cidade de Monte Alegre.

Todo episódio tinha algum crime ou passado podre para o Doutor Gil descobrir, o que automaticamente implicava no afastamento do seu principal objetivo de encontrar sua cura. Mas ele fez várias amizades no pitoresco local ----- como Dr. Estácio (Clemente Viscaíno), Felipe (Leonardo Machado) e Lia (Fernanda Moro) -----, incluindo um grande amor: Mariana (Cristiana Oliveira), ex-delegada e prefeita da cidade, casada com um político corrupto e mau-caráter.
Todo este conjunto resultou em um bem construído roteiro de suspense, que chegou a apresentar algumas cenas bem macabras.

A produção foi gravada em Minas de Camaquã, interior do Rio Grande do Sul, e o lugar foi muito apropriado para servir de ambientação, uma vez que a área remete a lugares afastados e fascinantes, muito propícios para histórias cheias de segredos. Colocar a misteriosa cidade de Monte Alegre ali foi um acerto.

A trama começou causando um certo estranhamento, principalmente por se tratar de um tema pouco abordado e fugir das tradicionais séries mais leves do canal, porém, ao longo dos episódios, todo aquele enredo desenvolvido pelo diretor Paulo Nascimento foi ficando cada vez mais entrelaçado. A vontade de continuar acompanhando a história e os passos de Gil se fez presente em todos os capítulos semanais, o que é um mérito do conjunto da obra.

Cada episódio continha uma trama com início, meio e fim, onde o protagonista se envolvia diretamente na condução dos conflitos. Ao mesmo tempo que a saga em busca da cura de sua doença seguia paralelamente aos novos dramas que surgiam a cada instante. E o elenco, onde a maioria dos nomes (com exceção do casal central) não eram tão conhecidos do grande público, fez bonito.

Edson Celulari pôde mostrar uma faceta até então inédita na televisão, interpretando um tipo totalmente diferente de tudo o que ele já havia feito. Doutor Gil exigiu demais do ator que correspondeu à altura em cada cena, honrando o posto de protagonista. Cristiana Oliveira também brilhou e fez um ótimo casal com o biólogo cheio de traumas e complexidades. Clemente Viscaíno, Fernanda Moro, Leonardo Machado, Zé Victor Castiel (delegado Roveda) e Nelson Diniz (Jaques) foram outros ótimos destaques. Vale destacar ainda a participação da grande Neusa Maria Faro, na pele da cafetina cega Maria Pequena, que interpretou com maestria a mulher mais poderosa da cidade, que guardava todos os segredos da cidade de Monte Alegre.

"Animal" foi uma produção muito ousada e o saldo final é muito positivo. Embora mais duas temporadas da série já tivessem garantidas antes mesmo da primeira estrear, a Globo cancelou o projeto, ao menos por enquanto. Porém, a história tem potencial para uma continuação, até mesmo porque o último episódio abriu um leque de possibilidades e não concluiu muitos enigmas. Resta aguardar qual será o futuro deste seriado que foi uma boa surpresa.