quinta-feira, 19 de junho de 2014

A respeitável longevidade de "A Praça é Nossa"

Manuel da Nóbrega criou algo teoricamente simplório em 1956: um programa humorístico, cujo único cenário era um banco de uma praça, por onde passariam inúmeros personagens, que conversariam com um senhor que estava diariamente sentado ali, lendo seu jornal. Inicialmente chamado de "A Praça da Alegria", o humorístico foi tão bem recebido pelo público que passou por várias emissoras ---- incluindo TV Paulista (onde estreou, em 1957), Record e Globo (ficando entre 1977 e 1978, comandado por Miele) -----, até ser remontado na Band em 1987, sendo denominado de "Praça Brasil", e comandado pelo 'herdeiro' Carlos Alberto de Nóbrega.


Mas logo depois, o filho de Manuel de Nóbrega foi para o SBT, levou a atração com ele, mudou o nome para "A Praça é Nossa" e de lá não saiu mais. O humorístico estreou na emissora de Silvio Santos em maio de 1987 e está até hoje no ar, comprovando o êxito do formato criado há 58 anos. Apesar das trocas de horário que o programa sofreu ao longo destes anos, sendo a principal e mais traumática delas a saída dos sábados à noite, migrando para os domingos à tarde, sua longevidade mostra que o simples, às vezes, dá mais certo do que uma série de inovações.

E o formato expõe a generosidade de Carlos Alberto de Nóbrega, que funciona como um mero coadjuvante, cujo objetivo é fazer 'escada' para os humoristas brilharem. Situação semelhante vivida pelo saudoso Chico Anysio, na "Escolinha do Professor Raimundo", onde os alunos eram os protagonistas.
Não é qualquer um que aceita este tipo de 'papel' e por tantos anos. Mas Carlos (que completou 60 anos de carreira em 2014) é um ser humano especial e deu provas de que a sua realização profissional é seguir o projeto de seu pai e ver os colegas se destacando.

Foram muitos os humoristas que já passaram pela praça. Infelizmente, várias figuras marcantes já faleceram e ficaram na memória. Até por isso, pode-se dizer com tranquilidade que a "A Praça é Nossa" atual, embora tenha alguns talentos, é infinitamente inferior ao que era anos atrás. Como esquecer da Vera Verão (Jorge Lafond), um gay negro, alto e forte, que se vestia de mulher e se indignava quando era chamado de 'bicha'? O bordão "Êêêêêpa, bicha não! Eu sou uma quase mulher!" fazia muito sucesso.

A Fofoqueira (saudosa Maria Teresa) que vivia na janela falando mal da vida dos outros era um outro clássico do programa. Assim como o maluco (Clayton Silva) que puxava uma caixinha de fósforo, como se estivesse com um cachorro, e tinha o bordão: "Tô de olho no senhor!". E o simpático Lilico, que chegava com seu tambor cantando "Tempo bom, não volta mais..."? Outra figura que deixou saudades.

Mas falar dos tipos interpretados por talentos que se foram e não citar a Velha Surda é quase um pecado. Aquela velhinha que entendia tudo errado e ainda culpava o seu amigo Apolônio (Viana Junior) era uma das melhores personagens do humorístico. O gênio Roni Rios fez do papel um sucesso e ainda conseguiu brilhar interpretando outro divertido perfil, o Philadelpho, um sujeito que gostava de tudo explicado nos 'míííííííííííííííííínimos detalhes'.

Já Ronald Golias era, sem menosprezar o talento dos demais, o grande protagonista de "A Praça é Nossa". Pacífico, seu papel mais famoso, era um dos pontos altos do programa e os improvisos do humorista sempre arrancavam risos de seu parceiro/amigo/irmão Carlos Alberto. Vale destacar também seus outros personagens de sucesso, como o Professor Bartolomeu e o sincero Profeta ("Ualaaaa"). Era praticamente impossível não rir com Golias.

E Aloísio Ferreira Gomes (o cínico Canarinho) era um dos últimos humoristas desta época que ainda estavam no programa. Mas, infelizmente, veio a falecer este ano. O tradicional quadro ---- onde ele ficava no orelhão, fingindo que conversava com alguém somente para avacalhar os diálogos do fortão (Carlos Koppa), transformando tudo em frases de duplo sentido ---- era hilário.

Mas ainda há grandes atores, que seguem firmes e fortes no programa, divertindo o público. Como Saulo Laranjeira, por exemplo, que interpretada o canalha e corrupto João Plenário, político que não se envergonha de roubar o povo. Moacyr Franco, um dos melhores atores do país, é outro excelente humorista que permanece na praça, com seu Jeca Gay, um caipira que não sabe explicar nada corretamente, se atrapalhando com as palavras. Já o magnífico Jorge Loredo também marca presença com seu galanteador Zé Bonitinho (criado por ele há mais de 50 anos), o perigote das mulheres. Da 'nova safra' de talentos, Maurício Manfrini se destaca com seu malandro Paulinho Gogó, Zé Américo diverte com sua imitação perfeita do jornalista José Luis Datena e Marlei Cevada interpreta muito bem Nina, uma criança metida a esperta.

"A Praça é Nossa" tem uma longevidade respeitável e ainda obtém boa resposta da audiência. Exibida atualmente às quinta-feiras (às 23h), o humorístico consegue com certa tranquilidade a vice-liderança e chegou até a vencer em alguns momentos o "Tá no Ar: a TV na TV", na época que o humorístico liderado por Marcelo Adnet e Marcius Melhem estava sendo exibido pela Globo. O programa comandado há mais de 25 anos por Carlos Alberto de Nóbrega, e que existe há quase 60 anos, faz parte da história da televisão brasileira e merece reconhecimento por este nada simples feito alcançado.

40 comentários:



  1. Sergio,

    é verdade, como é duradouro este programa!

    Bjs

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  2. A longevidade merece respeito mas o programa era bom quando todos os grandes humoristas do país estavam nele. Gostei de relembrar de alguns, porque depois que eles faleceram esse programa ficou um lixo.

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  3. Sérgio, deixei de ver o programa há mt tempo, mas o motivo foi a morte de todos os que eu gostava. Me emocionei relembrando deles lendo seu texto. Saudades! Mas um programa ter 58 anos de vida merece respeito mesmo.Abraço.

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  4. Gostei da sua análise geral sobre o programa. E fez bem em não falar só da fase atual até porque acho que você criticaria, correto? Eu me lembro quando via A Praça é nossa todo sábado, quando nem existia ainda o Zorra Total. Pena que assim como ocorreu com a Escolinha, quase todo mundo morreu.

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  5. Detalhe que nesses anos todos a praça nunca tinha passado a globo. Mas esse ano era só entrar aquele programa do Marcelo chato a
    Adnet que a praça subia no ibope e chegava a ficar em primeiro. Vi no TV Fama o Carlos Alberto agradecer ao Adnet, rsrs.

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  6. Incrível ver um programa com tantos anos assim. Faz muito não vejo! abraços,lindo fds! chiuca

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  7. Há anos que eu não assisto a Praça é nossa. Esse programa é igual a Malhação e Zorra total. Todos falam mal, mas o programa continua no ar. Já vi várias entrevistas do Carlos Alberto. Ele parece ser uma pessoa sensacional e incrível. Muito carismático.

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  8. Há anos que eu não assisto a Praça é nossa. Esse programa é igual a Malhação e Zorra total. Todos falam mal, mas o programa continua no ar. Já vi várias entrevistas do Carlos Alberto. Ele parece ser uma pessoa sensacional e incrível. Muito carismático.

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  9. Pena que os bons se foram e os novos não tem um terço do talento deles. Só salva o Zé Bonitinho e o Moacyr Franco. E sejamos fracos, a fórmula do programa está desgastada.

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  10. A longevidade mostra que esse tipo de humor ainda tem espaço na televisão, embora ache que com a morte de Carlos ele não consiga se sustentar. Faz tempo que não vejo mas gostei de relembrar desses verdadeiros clássicos, Sérgio. Abraço.

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  11. Gostaria de dizer que seu blog é o mais completo sobre televisão. Você analisa tudo com maestria e coerência. Parabéns, cara.





    Italo

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  12. Oi Sérgio,
    Teve uma época, que eu sempre assistia 'A praça é nossa',
    tinha humoristas sensacionais...
    Depois foi perdendo a graça (pelo menos pra mim), pois os mais legais morreram.
    Mas sem dúvida, um programa que está há tanto tempo no ar, merece nosso reconhecimento.
    Muito bom seu post, ressaltando e recordando tantos artistas talentosos.
    bjs!

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  13. Já assisti muito esse programa principalmente na época da Velha Surda, agora vejo muitas piadas de duplo sentido e sem graça
    Big beijos
    Lulu on the Sky

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  14. Tem um tempo que não vejo o programa, Sérgio, mas adorava a velha surda e aquela bonequinha do "lá vem o golpe"... hahaa beijinhos

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  15. Olá, Boa noite,Sérgio
    vc tem toda razão,Carlos Alberto de Nóbrega, funciona como um mero coadjuvante, cujo objetivo é fazer 'escada' para os outros humoristas brilharem, uns com mais talentos e outros menos. Ele herdou o carisma e a simplicidade do velho Nóbrega.
    Muitos comediantes bons e talentosos faleceram, e é natural que o nível do programa tenha caído muito.Mas, valeu a sua análise, como destaque e homenagem para um programa que está muito tempo no ar...
    Obrigado pelo carinho,belo finde,abraços!

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  17. Serginho querido boa noite!

    Quase não assisto mais a praça mas tenho saudades de certos humoristas como vc disse
    Ronald Glias
    Vera verão
    A fofoqueira e famosa Maria Teresa
    Canarinho, enfim foram tantos que da mesmo saudade, e que dure por muitos e muitos anos
    Um programa alegre que fez e faz sucesso sempre

    Bom final de semana
    Bjuss
    Rita!!

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  18. Confesso que já ri muito com a Praça, e acho que muito do sucesso se dá ao Carlos Alberto.
    Grandes humoristas já passaram e outros passarão, hoje vejo raramente. Minha avó não perde por nada rs

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  19. Hoje não assisto mais a Praça, mas já gostei muito, e ao ler o texto relembrei muita coisa :)
    Saudades da Vera Verão e da Velha Surda, eram os personagens que eu mais gostava, kkkk.

    Bjs Sérgio.

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  20. Anônimo, há tempos não vejo mais o programa realmente pq não vejo mais graça, mas a longevidade impressiona.

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  21. Que bom, Fabrício. Era mta gente boa mesmo. Saudades. abçs

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  22. Obrigado, Wallace. Sim, criticaria pq embora ainda tenha profissionais de talento, mts quadros são sem graça. abçs

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  23. Acho difícil o Carlos Alberto ter feito isso, anônimo. Ele não é desse tipo.

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  24. O Carlos Alberto parece mesmo ser uma pessoa incrível, anônimo. E é mesmo.

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  25. Pois é, Ana, os humoristas que se foram fazem falta mesmo, e concordo que esses dois são os melhores da atual Praça. Bjs

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  26. OX, eu acho que quando esse triste dia chegar, o filho dele irá assumir o programa. Ele até já fez isso algumas vezes. abçs.

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  27. Muito obrigado, Italo. Vc continua sumido. abçssss

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  28. Eu tb via sempre, Clau. Mas foi mesmo perdendo a graça com a morte de tantos talentos. Pena. bjs

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  29. A Velha Surda era um clássico, Lulu. Saudades.

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  30. Felis, é verdade, o Carlos herdou do pai o carisma e a simpatia. E ele é a grande escada do programa. Abçs e boa semana.

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  31. Rita, todos deixaram mtas saudades, né? Como eram bons!! bjs e boa semana.

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  32. Danizita, tb gostava mt delas, além, claro, do Golias, que era o melhor. Bjsssss

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  33. O Carlos Alberto é um cara maravilhoso.

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  34. Thallys Bruno Almeida27 de junho de 2014 às 20:14

    Peguei um pouco da Praça é Nossa no horário clássico e acompanhei um pouco aos domingos. Tanta gente boa. Lafond, Roni Rios, Ronald Golias (com quem trabalhou também na Família Trapo, criada justamente pelo Carlos Alberto junto com o Jô na Record dos anos 60), Jorge Loredo, Manfrini, Saulo Laranjeira... Não tenho mais visto o programa, mas é de fato uma coisa admirável manter-se tanto tempo no ar. Da nova geração, não cheguei a ver a Marlei Cevada atuando (apenas vi que ela fez a Chiquinha no especial do Chaves que o SBT fez em 2011, para os 30 anos da emissora), mas gostava do Zé Américo como Datena.

    Aliás, dá pra perceber que o SBT honra mesmo o slogan de TV mais feliz do país, porque percebe-se que seus principais astros gostam muito do que fazem (Sílvio, Ratinho, Carlos Alberto e Eliana, pra ficar com alguns exemplos), sem contar que transparecem ser pessoas da melhor qualidade. Não existe (ou não é tão evidente) uma "guerra de egos", como se vê mais em outras.

    Ah: li que o Moacyr Franco estaria na 3ª temp. do Sessão de Terapia.

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  35. Tomara que o Moacyr esteja mesmo na terceira temporada. Atualmente, a Praça é fraca mas é um programa respeitável e muita gente incrível já passou por ali. Qd era aos sábados eu via sempre.

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